Livro: Balada de amor Página 3

... e embargada, começou a falar com a inglesa. Foi uma conversa longa e extenuante. Embora a jovem estivesse disposta a recusar a oferta da amiga, a mãe tinha sido forte o bastante para emprestar-lhe forças para aceitar aquela chance. Agora, sentada na poltrona do Jumbo da Varig, Tânia sentia-se feliz por ter aceito o convite. Enquanto o avião taxiava para decolar, Tânia lembrava-se do corre-corre dos últimos dias. Tivera tantas coisas com que se ocupar que nem pudera sentir a tristeza da partida. Seu diploma de História da Arte tivera que ser traduzido e registrado pelo Consulado Britânico. Tivera que empacotar seus livros e objetos, bem como separar as roupas para levar. “Ainda bem que agora é verão na Europa, senão não saberia onde conseguir roupas quentes o bastante para enfrentar o frio!”, pensou ela. Depois de ter quase tudo pronto ainda tivera que tratar do passaporte e passagem, bem como conseguir uma autorização para estabelecer residência na Inglaterra. Sua mãe tinha sido incansável, ajudando-a em tudo o que fosse possível. Seu coração confrangeu-se com a lembrança da mãe. Mas estava tranquila, pois sabia que as duas eram bastante fortes e corajosas para enfrentarem a vida sozinhas. Desde a morte de seu pai, que as deixara relativamente bem, as duas tinham sido obrigadas a enfrentarem, sem ajuda, todos os tipos de problemas, e isso tinha sido fundamental para o amadurecimento precoce de Tânia. No entanto, toda a responsabilidade e tristeza que tivera de encarar não foram bastante para destruir a alegria interior e a vitalidade que transbordavam na jovem. A aeromoça, sorridente, veio comunicar que iriam servir aperitivo antes do jantar. Tânia admirou-se por se ver já no ar. Imersa em seus pensamentos, nem tinha visto o avião decolar. Entristeceu-se por não ter dado uma última olhada nas luzes do Rio. “Vou sentir falta da praia, do meu cooper e de meus amigos”, pensou. Empurrando o carrinho de bebidas, a aeromoç ...

aproximou-se, perguntando-lhe o que desejava beber. Tânia aceitou apenas- um suco de laranja e ficou bebericando-o, pensativa. “É uma tremenda sorte ter conseguido esse emprego”, refletiu. “Afinal, desde que me formei, em dezembro, que estou procurando alguma coisa. Já são seis meses!” O casal que estava sentado ao seu lado interrompeu seus pensamentos com uma risada alegre. Tânia olhou-os disfarçadamente, pensando: “Pelo jeito, devem estar em lua-de-mel. Estão totalmente absorvidos um no outro. Nem notam as pessoas ao seu redor! É tão bonito um amor assim.” Sorridente, semicerrou os olhos, sonhadora. Agora só faltava encontrar um grande amor, também. Um amor que a arrastasse pelo turbilhão da paixão, que a fizesse descobrir todas as sensações desconhecidas pelo seu corpo, que a fizesse vibrar a corda misteriosa do desejo. O comissário de bordo gentilmente depositou a bandeja do jantar à sua frente, despertando-a de suas divagações. Embora os pratos estivessem com um ar apetitoso, a jovem mal tocou na comida. A expectativa de sua nova vida, os sonhos que a assaltavam e a lembrança da partida tiravam-lhe o apetite. Tânia ajeitou-se na cadeira, procurando uma posição mais confortável. Daí a poucas horas estaria aterrissando no aeroporto de Heathrow, em Londres. Agitada pela ideia de sua próxima chegada, apertou as mãos de dedos longos e finos e, num gesto muito peculiar, ajeitou os cabelos soltos e perfumados com um movimento de cabeça. Suspirando, tentou concentrar-se no filme que estava sendo exibido durante o voo, mas todo o cansaço dos últimos dias acabou vencendo-a. Deixou-se adormecer, com o semblante suave e tranquilo de uma criança. Foi acordada pelas luzes da cabina que se acendiam. Pelo alto-falante o piloto anunciava que dentro de mais algumas horas chegariam a Londres, onde o tempo estava magnífico. O coração da moça bateu forte e descompassado, como se somente agora se desse conta de que Londres n ...

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