Livro: Balada de amor Página 2

... estante. Tânia beijou a mãe, que a olhava admirada. — Que foi que houve, minha filha? Está parecendo que você escapou de um naufrágio! — Você sempre tem razão, mamãe. Escapei do “naufrágio de minhas ilusões”! —respondeu a jovem, com um tom brincalhão. E continuou, enquanto preparava um banho: — Sabe que me recusaram emprego outra vez? Dizem que não tenho experiência, e que isso é im-pres-cin-dí-vel para a função. Tânia ligou o chuveiro, cujo barulho abafou suas últimas palavras. Sua mãe, largando os pincéis e a paleta, apanhou as roupas que a filha deixara caídas pelo chão. A jovem, desligando o chuveiro, pediu gritando: — Mãe, traz a toalha, por favor! A mãe recostou-se na porta, enquanto dentro do box a filha enxugava-se vigorosamente. — É, Tânia, é muito difícil conseguir o primeiro emprego. Mesmo para pessoas como você, que se formam com notas excelentes, fazem diversos cursos e vão a todos os congressos. — Sabe o que é que eu sinto? É como se eles tivessem raiva de mim, só porque tenho apenas vinte e um anos. A mãe sorriu, compreensiva: — Talvez tenham mesmo, meu amor. Você é jovem, é linda, alegre, inteligente. Você é a filha mais linda do mundo! A mais bagunceira, também — acrescentou, mostrando com um gesto as roupas que acabara de apanhar do chão. — Ah, não, mamãe! Você sabe muito bem que eu ia juntar tudo quando terminasse o banho — disse rindo, enquanto penteava os cabelos molhados. — Sabe que recebi carta da Cynthia? — perguntou, voltando-se para a mãe. — O que ela conta? — Vou abrir agora — respondeu a jovem, enquanto rasgava o envelope. Em silêncio, leu a carta rapidamente e, virando-se para a mãe, murmurou: — Não acredito, não posso acreditar! — Não acredita em quê, minha filha? — A Cynthia me arranjou um emprego! — respondeu, incrédula. — Um emprego? Como? Onde? — Um emprego maravilhoso, o emprego dos meus sonhos: curadora das obr ...

s de arte de um castelo medieval inglês, transformado em museu pelos seus proprietários. Tenho que ir para lá o quanto antes, fazer um curso de quatro semanas para me familiarizar com as obras e os cuidados necessários à sua preservação. — Mas, o emprego é na Inglaterra! — interrompeu sua mãe. — É, mas o que é que tem isso? Cynthia está me convidando para morar em sua casa. Já que nos damos tão bem, acho que vai ser ótimo! — calou-se abruptamente, consciente de que a ida para a Inglaterra significava a separação das duas. — Ah, não, mamãe, vou responder que não pode ser. Você iria ficar aqui, sozinha. Mas a jovem senhora já havia apanhado o telefone e, corajosamente, fazia uma ligação internacional para Reading, uma pequena cidade universitária perto de Londres, onde morava Cynthia Sunders. Estendeu o telefone com as mãos firmes, dizendo: — Vamos, pegue! Está chamando. Aceite, sua boba! É a maior chance de sua vida! Com os olhos úmidos, a jovem apanhou o aparelho, sem saber ainda o que responder. Sentia-se dilacerada entre o amor pela mãe e o chamado que a vida lhe fazia. Iniciar sua carreira, ser independente, ir para o exterior, tudo isso eram sonhos acalentados há muito tempo. Procurou os olhos da mãe, com um olhar cheio de ansiedade e dúvida, e ela, carinhosamente, apertou-lhe uma das mãos para transmitir-lhe a confiança e a força necessárias para a tomada de uma decisão. Tânia sabia que sua mãe sofreria com a separação. Mas também sabia que a jovem senhora ficaria decepcionada se a filha não aceitasse aquele trabalho. Embora fosse filha única, sua mãe nunca a superprotegera, preparando-a para o mundo e insuflando-lhe a independência e a determinação necessárias para sua vida futura. Jamais admitiria a ideia de ser um empecilho na vida da filha. Foi ainda cheia de dúvidas que ouviu a voz da amiga respondendo ao telefone. Apertou com mais força as mãos da mãe e, com um fio de voz, trêmula ...

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