Livro: Uma Vida em Leilão Página 2

... vivesse como uma freira o resto de seus dias. Já basta tudo o que aconteceu o ano passado. Coitado do Blaise! Deve ter sido tão difícil para você. . — Sim, Kath, mas agora preciso desligar. Até logo. Gerda pós o telefone no gancho e correu para a cozinha. Kathryn era um amor e tinha a melhor das intenções, mas quando vinha com aquelas pieguices tornava-se insuportável. Gerda sabia que Kathryn tinha razão. Não poderia permanecer indefinidamente assim, evitando convites, afogando-se no trabalho durante o dia, passando os momentos de lazer sozinha com suas pe¬quenas tarefas, reproduzindo a imagem fiel da jovem viúva. Se eles soubessem a verdade! E no entanto ela tinha amado Blaise, e ele indubitavelmente a tinha amado. Com Blaise ela finalmente encontrara um porto seguro, no qual podia fechar as portas do passado. De repente seus olhos marejaram e ela sacudiu a cabeça com ímpeto. Por que você teve de morrer, Blaise?, interrogou-se com aquela angústia que vi¬nha do fundo. Por quê? Pôs de lado com desânimo a refeição que deixara pela metade e começou a dar conta da tarefa que tinha trazido para casa. Trata¬va-se de algumas minutas, de um relatório que pouparia muito tempo na segunda-feira se ela o fizesse agora, e de algumas anota¬ções de Howard. Apesar do que Kathryn pudesse achar em con¬trário, as exigências colocadas por seu cargo de assistente de Howard Durrel eram um ponto de apoio em sua vida. Lá precisavam dela e não tinha muito tempo para devaneios. Ela tivera sorte de encon¬trar um posto vago no momento em que mais necessitava. A firma Charingfolds não era grande ou impessoal demais. Howard revela¬ra-se muito mais amigo do que patrão, mesmo que ela nunca tivesse se permitido tirar vantagens do fato de que já se conheciam há muito tempo. Seus dedos voavam no teclado da máquina e ela pensou como ele estaria se arranjando com o representante da Eletrônica Van-Lorn. Howard estava ansiosíssimo para pegar o contrato, ...

obretudo por causa dos boatos de que o Consórcio Wentfords ia assumir o controle da Van-Lorn. Ela tirava a última lauda da máquina quando a cam¬painha da porta tocou baixinho. Apressou-se em atender e ficou sur¬presa ao deparar com aquele homem corpulento e pálido. — Howard! Não o esperava. — Interrompeu-se. Bastou um olhar, para ela compreender do que se tratava. Tirou-lhe a pasta da mão. — Entre e sente-se. Posso lhe trazer um pouco de leite. — Não, não precisa se preocupar. Não tomando conhecimento de seu protesto, enquanto ele se afun¬dava na poltrona, Gerda, foi rapidamente para a cozinha e voltou rapidamente com o leite. Howard padecia daquilo que ele chamava a praga dos homens de negócio — úlcera — e a experiência já havia ensinado a Gerda a inutilidade de lhe aconselhar que diminuísse um pouco o seu ritmo. — Obrigado — murmurou, acrescentando aparentemente sem ne¬nhuma lógica. — Você se parece demais com sua mãe, Gerda. Con¬trolada e serena na aparência, mas quente e impulsiva por dentro. 0 que é que eu faria sem você? — Faça apenas o que seu médico aconselhou, deixe que ele o livre dessa mascote, como você a chama. — Estou ficando muito velho e muito medroso. — Bobagem. Você ficaria um homem novo. — Não sei se quero ficar um homem novo, Gerda — Pousou o copo. — Sinto muito estar dando tanto trabalho a você, meu bem, mas você me ajudará? — Claro. Quer que o leve para casa? Ou que chame um médico? Ou. — lembrou-se de alguma coisa e teve um sobressalto. — É melhor eu chamar o senhor Kingsley e cancelar seu convite para jan¬tar. Está em cima da hora. — Não — o gesto de Howard a deteve —, não é preciso. Oh, maldi¬ção! Isto foi acontecer no pior momento possível. Gerda, aconteceu hoje. Telefonaram-me cinco minutos depois que você saiu do escritó¬rio. — Quer dizer que. ? Sacudiu a cabeça afirmativamente. Confirmado. Van-Lorn foi comprado por Wentford. — Voc� ...

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