Livro: Náufragos do Destino Página 3

... a morte não oferece escolha. Mas, fale-me de você. Você está bem? — Sim, acredito que sim. Ainda um pouco triste, mas tenho certeza que passará. — Nada como um novo amor para esquecer um amor antigo. — Não para mim. A última coisa que quero no mundo é um novo casamento. Não quero nem mesmo um caso. Na verdade, nem mesmo um flerte. Ela jamais diria isso à sua mãe, mas com tia Alice tinha sido sempre clara e honesta. — Ah, vai virar freira? — Pelo menos por uns tempos. — Pode ser um erro. Você não pode querer fechar as portas às oportunidades que a vida lhe oferece. É preciso aproveitá-las quando elas surgem. Arrepender-se é estancar a emoção. Alex dizia: “Só me arrependo das coisas que não fiz”. Ele era um homem sensato. — Será insensato não querer repetir uma experiência infeliz? — É claro que não. Mas é tolice negar o casamento como instituição somente porque teve um casamento ruim. — Só preciso de algum tempo, titia. Ela se calou e olhou para longe. Quando se voltou para tia Alice, seus olhos estavam cheios de lágrimas: — Gosto de você mais do que de qualquer outra pessoa por entender o que eu sinto. Posso contar-lhe tudo desde o começo? Acho que me faria bem. — Você deve. Ficaria magoada se não confiasse em mim. — Então contarei — disse Katia. — Nunca falei sobre isso a ninguém, nem mesmo a Rod ou a mamãe. Talvez por orgulho, não sei. Mas quando encontrei Rod e aceitei o seu pedido, pensei que estava resolvendo toda a minha vida. Acreditava de todo o coração que os meus sonhos haviam se realizado, que Rod e eu nos amaríamos para sempre, que teríamos o que todo mundo quer da vida: um casamento duradouro, um lar, filhos. Nunca me ocorreu que tivéssemos cometido um engano. Não percebi que tudo poderia se quebrar como uma bola caindo de uma árvore de Natal. E, de repente, aconteceu. Minha vida se espatifou. Mas acredito que foi mais culpa minha que de Rod. Acho que era aquilo ...

esmo o que ele queria, mais um acordo do que um casamento de verdade. Mas eu não podia me contentar com aquilo. Eu queria amor para toda a vida. Ainda quero. Mas preciso me conhecer bem antes de tentar novamente. Não quero me apaixonar sem pensar nas conseqüências. O passado foi muito doloroso e não quero me machucar novamente. Por nada neste mundo. — Concordo plenamente — disse tia Alice. — E é por isso que você está aqui: para começar de novo. Sei que vai ficar zangada por eu lhe oferecer um jantar esta noite, mas nunca me perdoaria se não a apresentasse imediatamente. Aqui em Montego, a propósito, dizer Baía Montego é considerado quase que uma grosseria, seguimos certas regras. Não importa se vai ficar aqui uma semana, um mês ou para sempre, você não será bem-vinda se não obedecer ao código. Esse código possui natureza e ritmo próprios, como Montego, como toda a ilha. Mas não se preocupe, ele é bastante civilizado. Como está sua mãe? — Ela está muito bem e mandou lembranças. — Minha querida Agatha. Eterna criança. Você sabe que, embora ela seja três anos mais velha que eu, sempre precisei protegê-la? Eu a amo muito. — E ela a ama também. — Eu sei. Gostaria de vê-la mais vezes, mas ela não vem aqui e eu só vou a Nova York em ocasiões oficiais. Agora, falemos do jantar. Nós, as mulheres, usamos trajes sociais, mas os homens, por razões que nunca entendi, podem usar camisa e calça esporte. Haverá cerca de vinte pessoas e cortei o máximo que podia da lista. Serão caras novas para você e é exatamente do que você precisa: mudanças. — Eu a amo, tia Alice. — E eu adoro você. Vou fazer com que tenha uma temporada maravilhosa. E espero que seja longa. — Talvez não saia daqui nunca mais. É tudo tão bonito e você é tão maravilhosa. — Bem, há mais uma coisa que deve saber. Você já deve ter ouvido falar de Lady Gladys Smith-Croydon. Ela é minha melhor amiga e nos conhecemos já há quase ...

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