Livro: A Teia do Destino Página 3

... dourado glorioso, rodeavam-se pelos cílios mais longos já vistos por ele. Nesta terra, onde as mulheres tinham grande habilidade na arte de se pintarem e de usar ungüentos perfumados, a moça não exalava odor algum e estava pouco pintada. A túnica curta, embora simples, aparentava ser de boa qualidade. Ele sentiu a pontada do desejo ao observar-lhe o corpo tenso. Através do linho transparente, podia ver cada curva dela. Isso o fez confirmar a decisão anterior. Ele a teria tão certo quanto Apolo dirigia seu carro de guerra pelo céu, cada manhã, a fim de trazer o sol. Os egípcios tinham se apressado a oferecer tais mulheres aos capitães de Alexandre, durante a marcha rápida pelo delta do Reino Baixo para os desertos e vale fértil do Reino Alto. Exultantes por se livrarem dos odiados conquistadores persas, haviam saudado Alexandre e oferecido, os seus capitães, presentes fantásticos de agradecimento e tributo. Até então, Philip não tivera meios para se apossar das preciosidades e nem tempo para apreciar as mulheres. Preocupado com a marcha rápida de sua tropa, responsável pela segurança do flanco ocidental de Alexandre, ele não permitira que qualquer mulher, nem mesmo as habituais meretrizes, os acompanhassem. Até os carros para bagagem tinham sido dispensados. Mas agora, estavam a apenas um dia de marcha da grande cidade de Mênfis, onde Alexandre aceitaria a rendição do vice-sátrapa persa. Melhor ainda, encontravam-se a uma pequena distância da cidade de Deneba, perto da qual e fora de suas muralhas, Philip pretendia acampar nessa noite. Pela primeira vez, desde sua chegada à terra do Nilo, decidiu que ele provaria suas frutas exóticas. Um rosnado baixo e prolongado levantou-lhe os cabelos da nuca. Desviou o olhar da mulher para o animal. — Venha para cá. A ordem e o gesto acompanhando-a expressavam o peso de sua autoridade como comandante de um esquadrão da cavalaria especial de Alexandre, os Companheiros Reais Macedônios. ...

hilip raramente usava esse tom, mas quando o fazia, jovens soldados estremeciam e veteranos apressavam-se em obedecer. A moça piscou, porém, não saiu do lugar e ergueu mais o queixo. Pelos deuses, ela precisava ser domada tanto quanto a fera. A excitação percorreu o corpo de Philip. Um homem procurava uma jovem dócil e meiga para ser sua esposa, mas essa aí poderia lhe proporcionar prazeres jamais encontrados no leito nupcial. Pelo menos não no dele. A moça tímida com quem tinha se casado anos atrás, e enterrado recentemente, raramente lhe provocara algo além de compaixão. O que esta mulher de olhos dourados e cabelos negros lhe inspiravam estava longe de ser suave e não tinha a mínima semelhança à compaixão. Estimulado, ele deu um passo em sua direção. A maneira imperiosa com que ela levantou a mão e suas palavras gaguejadas o imobilizaram. — Você. Você não. — Você fala a língua dos gregos? — indagou Philip, sem desviar os olhos do caracal. — Eu. Eu. — Fale, mulher! Explique o que faz no deserto com esta fera! Farah — Farahapsut, cantora principal do templo e Bast, por destino, dama do Reino Alto e, em breve, esposa do senhor de Deneba — rangeu os dentes em um acesso de fúria e frustração. Esse idiota não percebia que ela tentava, justamente, se explicar? Refreou a tentação de cuspir nele e de gritar para que baixasse a lança antes de desencadear fúria da deusa felina, Bast, sobre si próprio e ela. Mas como uma escrava imbecil, diante de seu senhor, ela tentou lembrar as palavras. Como a maioria dos egípcios e por causa do vasto número de helenos nas terras do Nilo, ela havia aprendido grego na infância. Mas nos últimos anos, seus deveres no templo exigiam muito tempo e lhe permitiam pouco contato com estrangeiros, o que a levou a esquecer o outro idioma. — Você não. — disse ela apontando para o caracal e terminando com uma torrente de palavras em sua própria língua. A suas costas, a forma te ...

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