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— Não seja ridícula! — Carole explodiu numa gargalhada. — Que bobagem!
Kate encostou-se nas almofadas e lançou um olhar inquisidor para a amiga.
— Pense bem. Você trabalha no mínimo doze horas por dia. todas as mulheres casadas fazem isso. Agora, quanto David lhe dá para as despesas pessoais?
— Quatro libras por semana só para mim.
— Então, não ganha nem seis pence por hora. porque você trabalha sete dias por semana, lembre-se disso. Você é uma trou¬xa, Carole: todas as mulheres casadas são trouxas. Estão sendo exploradas, e isso é feito de um modo tão esperto que nem notam.
Kate tomou um gole de café e ficou esperando pelo efeito de suas palavras. Carole estava com a testa franzida. — Hum. imagine só, nem seis pence por hora.
— Mais casa e comida, é claro.
— Sabe, Kate, nunca pensei no assunto sob esse ângulo.
— A maioria das mulheres não faz esse cálculo. Trabalham o tempo todo, fazendo coisas o menos interessantes possível, mal
êm tempo para lazer ou descanso. e tudo por uns míseros trocados por hora. Vocês estão todas loucas!
— Bem. nunca pensei nisso. É horrível. Não admira que suas amigas casadas a invejem.
— Claro que me invejam. Eu trabalho só sete horas por dia e fico com tudo que ganho. Tenho meu próprio carro, posso ir aonde quiser e ficar o tempo que desejar. Veja esses dois últimos fins de semana em que saímos para passear. Você não poderia ter ido comigo, se David estivesse ern casa.
— Talvez eu tivesse saído com ele — comentou Carole, num
tom cheio de dúvidas.
— Talvez — repetiu Kate, com desdém. — Você sabe muito bem o que os homens fazem nos fins de semana. O carro, por exemplo, tem que ser lavado e revisado, e eles passam a maior parte do tempo lidando com óleo, baterias e essas coisas. Depois, vão mexer um pouco no jardim e logo começam a conversar com o vizinho, e você nem mesmo pode se juntar a eles, porque estão falando do serviço ou de esportes. Sempre as mesmas bobagens. Vamos, admita.
— Acho que está certa. — Carole parecia muito triste e começava a imaginar se não havia cometido um terrível erro ao casar com seu adorado David. — Você fez o casamento parecer tão aborrecido, Kate.
— É bem mais do que isso. Oh, você ainda não teve tempo de perceber, porque está casada há muito pouco tempo. Pode ter certeza: não há nada de bom no casamento para a mulher. Quero distância dele!
— E pretende mesmo ficar solteirona?
— Não gosto dessa palavra. Sou uma moça solteira.
— Agora, sim. Mas daqui a vinte anos, não será mais
uma moça.
— Mas vou parecer muito mais nova do que qualquer mulher casada da minha idade. — A resposta veio rápida. — Elas estarão envelhecidas, abatidas pelas infindáveis preocupações e excesso de trabalho.
— De certo modo. você tem razão.
— Claro que tenho razão! E também tenho juízo. Como já disse, os homens são uns exploradores, e quero distância deles!
— Você os odeia?
— Não, exatamente. Só não estou interessada neles, é tudo. Fazem coisas terríveis com as mulheres, e elas aceitam porque são umas tolas.
Kate foi interrompida pela campainha do telefone. Pondo a xícara sobre a mesinha, foi até o hall para atender. Ficou es¬cutando por alguns instantes, com a testa franzida. Várias vezes tentou interromper e, quando finalmente conseguiu, pa¬recia irritada:
— Outra vez, Vicky? Já é a quinta!
— Eu sei — gemeu a amiga, do outro lado da linha. — Mas ele é tão horrível, Kate. Não posso continuar noiva dele.
— Então, dê o fora nele — aconselhou Kate, tentando ser paciente. — Você já devia ser perita nisso. O que posso fazer?
— Esse é o problema, Kate. Não posso dar o fora nele.
— Então, bolas, case com ele.
— Não posso. Ah, Kate, não fique brava comigo. Você é a única que pode me ajudar. Nunca poderia casar com um homem como esse. Ele é terrível, cruel e mulherengo. para falar ...