Livro: Corações Selvagens Página 3

... a de Hale. — Venceu o comerciante! — E agora está dez mil libras mais rico — comentou outro aristocrata. — Esses jovens imberbes não sabem o valor do di¬nheiro! — Nem o valor da tradição. Os comentários se cruzavam enquanto Mawberry lutava para controlar o tremor das mãos. — O jovem Hale perde com a dignidade de um cavalheiro de verdade — comentou uma voz. — Ele sequer piscou! — Quando o comércio joga com a nobreza, tem que respeitar nossas regras —disse outra voz, desdenhosa. — De qualquer forma, foi uma tarde excitante! Zachariah Hale sorriu, ainda sem demonstrar nenhuma emoção. Não queria que ninguém desconfiasse de sua alegria diante da "sorte" de Mawberry. Felizmente, tudo correra de acordo com seus planos e já não havia motivos para preocupações. Agora Mawberry não precisaria mais forçar a delicada Elise a se casar com o libertino conde de Prestwick a fim de recuperar Summer-field. Já passava da meia noite, mas Zachariah Hale continuava acor¬dado. Sentado em seu escritório, diante das chamas crepitantes da lareira e com um copo de conhaque nas mãos, ele era o retrato de um homem satisfeito consigo mesmo. Apesar da postura relaxada, Hale era o tipo de homem que inspira respeito sem precisar qualquer esforço. Alto e musculoso, ele emanava um poder que seria ameaçador se não fosse tempe¬rado por sua costumeira simpatia. Naquela noite, a alegria o mantivera acordado. A sua adorada Elise, de cabelos dourados, fora salva de um humilhante casa¬mento com o decrépito conde de Prestwick e fora ele o responsável por essa proeza admirável. Hale sentia-se como um tigre possante e destemido que acabara de proteger sua companheira de um perigo mortal. Quando soubera do jogo em que Samuel Mawberry perdera Summerfield, Zachariah quase renunciara às suas últimas espe¬ranças. Se mencionasse esse débito, estaria cometendo uma ofensa que um aristocrata jamais lhe perdoaria. Também não adiantaria esperar que Mawb ...

rry lhe contasse o sucedido. Ao oferecer-se para pagar o débito de jogo e depois pedir a mão de Elise, estaria agindo com a mesma sordidez de Prestwick. Além disso, o nobre irmão de sua amada poderia se recusar a aceitar dinheiro de um homem sem sangue nobre mesmo sendo infinitamente mais rico do que ele! Ah, Elise! Ela era tão diferente do irmão! Zachariah estivera apenas algumas vezes com aquela beldade loira e se encantara com seu sorriso meigo. A fascinante Elise o fitava com interesse, mesmo sabendo que ele não era nobre. Essa atitude despida dos habituais preconceitos da aristocracia alimentara as esperanças de Zachariah que havia decidido corte¬já-la com insistência. Então, acontecera o malfadado jogo em que Samuel Mawberry perdera todas as propriedades da família. Esse fato limitara as possibilidades e o tempo ao alcance de Zachariah. Fora preciso recorrer à astúcia e, com um ligeiro movimento de seu pulso, colocara a carta vencedora nas mãos de Mawberry. Chegara a ser fácil demais! Ele tinha certeza de que o seu prémio não tardaria. Logica¬mente, precisaria enfrentar o avô antes de poder reclamar sua amada. Esse confronto seria desagradável, mas enfrentaria o po¬deroso e colérico Isaiah Hale com um sorriso nos lábios porque a sua felicidade o colocava acima dos mesquinhos conflitos re¬lativos ao dinheiro. Elise estava salva e logo lhe pertenceria! A convocação imperiosa chegou ao raiar do dia. Isaiah Hale exigia a presença do neto imediatamente e, embora Zachariah já previsse o chamado do avô, não o esperava tão cedo. O velho puritano sempre tratara o neto com rigidez e firmeza, sem demonstrar a menor condescendência. Enfurecido com a falta de consideração do avô, que acordava com os primeiros raios do sol e acreditava que o resto do mundo fosse como ele, Zachariah levantou-se da cama. Quando aquele velho metódico e severo perceberia que ele já era urn homem adulto e não apenas um menino de recados? Embora s ...

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