Livro: Armadilha tentadora Página 3

... conhecem bem lá. Qualquer um poderá dar referências. Rosana descontraiu-se. - Acho que não é necessário. O senhor já falou com minha mãe. Entre. - Sorrindo educada, estendeu a mão. - Sou Rosana Carey. O visitante cumprimentou-a formalmente e seguiu-a pelo saguão até a pequena sala de estar com janelas francesas que se abriam para um jardim longo e estreito nos fundos da casa. - Obrigado por me receber, srta. Carey. - Apesar da atitude formal, ele fitava detidamente o rosto de Rosana. - A senhora sua mãe disse-me que tinha alguns documentos que eu poderia levar emprestado. - Muitos documentos. Já os separei para o senhor. - Rosana não comentou que a mãe saíra de férias, para o rapaz não perceber que ela estava sozinha na casa. - Minha mãe teve que sair e me pediu para atendê-lo. - É muito gentil de sua parte. - O visitante olhou para o jardim e respirou os aromas que impregnavam o ar morno da tarde. Alguém aparava o gramado ali perto e ouviam-se gritos distantes de crianças. - Aqui é muito agradável. Sinto falta de um jardim. - Sente-se. Deseja tomar alguma coisa? - Rosana sorriu, avaliando a figura masculina. - Preparei xerez e biscoitos, pois pensei que fosse da faixa etária de minha mãe. O sr. Fraser sorriu, os dentes alvos contrastando com a pele bronzeada. - Desculpe-me por decepcioná-la. - Não estou decepcionada, mas aliviada - assegurou Rosana divertida. - Achei que teria um encontro formal com um senhor venerável. Mas quero esclarecer que tenho restrições em revelar o material que levantei. - Cartas? - inquiriu ele. Ela assentiu. - Muito particulares. Ele a encarou pensativo. Então, levantou-se. - Que tal saírmos, tomarmos um drinque? Srta. Carey, não sou nenhum santo, mas garanto que isto não é uma cantada. Só quero levá-la a um campo neutro, para então fazer algumas perguntas. - Está escrevendo algum artigo? - indagou Rosana, curiosa. - Não. Não tem nada a ver com o jornal. - Ele retirou um livro da ...

maleta e entregou-o. Rosana olhou a capa e ergueu as sobrancelhas. - Aurora Selvagem, de Ewen Fraser. - Na contracapa, viu a foto do autor. Ewen Fraser. Claro. Por isso, achara-o familiar. O livro era um campeão de vendas, muito comentado ultimamente. - Sabia que já o tinha visto em algum lugar! Ewen animou-se. - Já o leu? Rosana balançou a cabeça. - Infelizmente, não. Mas o senhor costuma aparecer nos noticiários. nem sempre sozinho - acrescentou, mordaz. Ewen Fraser era assíduo nas colunas sociais, acompanhado de belas mulheres, desde que seu livro começara a vender. Ewen torceu o lábio, desgostoso. - Não acredite em tudo o que lê, srta. Carey. com exceção do meu livro, claro. Realizei uma pesquisa cuidadosa antes de escrevê-lo. Aurora Selvagem se passa na época da guerra Zulu. O livro está vendendo tão bem que meu editor encomendou-me outro, retratando algum descendente da mesma família de militares, tendo como cenário a Primeira Guerra Mundial. É por isso que estou interessado em tudo o que puder me contar sobre sua avó. Rosana franziu o cenho. - Por que minha avó? - Se aceitar aquele drinque que ofereci, explicarei. Rosana ponderou. Era fácil entender porque as mulheres, incluindo sua mãe, se encantavam com Ewen Fraser à primeira vista. Ela mesma não fora exceção. - Todos os documentos estão aqui, sr. Fraser. Não gostaria de manuseá-los num lugar público. Se aceitar tomar o aperitivo aqui, poderemos analisar as cartas e fotografias com calma. Ele disfarçou a frustração. - Está bem - concordou. - Obrigado por sua atenção. Rosana deu uma olhada no bar do pai. - Você não me parece adepto de xerez. Prefere uísque? Ou conhaque? Ewen Fraser sorriu. - Que tal uma cerveja, por favor? Na cozinha, Rosana aliviou-se ao encontrar na geladeira algumas latas da cerveja favorita do pai. Pegou uma caneca, despejou castanhas numa petisqueira, serviu água tónica para si mesma e voltou para a sala de visitas. Ewen ...

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