Livro: Armadilha tentadora Página 2

... raser não estava querendo boa coisa. - Como se eu pudesse convencê-la de algo! - Rosana riu e, tendo estacionado o carro à entrada do saguão de embarque, começou a tirar a bagagem do porta-malas. - Quem é ele e onde vovó entra nisso? - Parece que está fazendo pesquisa para alguma biografia. Gostei dele. Rosana voltara à zona noroeste de Londres entusiasmada com a ideia de uma pesquisa sobre sua avó. A mãe não entrara em detalhes sobre o tal de sr. Fraser, mas, se escrevia memórias, devia ser um homem de idade. Nesse caso, após servir-lhe xerez e biscoitos, além das recordações sobre Rose Norman, conseguiria despachá-lo educadamente. Uma vez que acabara de se demitir de seu desagradável estágio, passaria aquele dia separando material de interesse para o tal sr. Fraser. Rosana sempre achara que sabia tudo sobre a avó, até a mãe mencionar a mala guardada no sótão. Rose Norman entregara seu tesouro pouco antes de morrer, instruindo Henrietta a contar tudo a sua neta quando chegasse a hora certa. E a hora chegara, pensou Rosana, abrindo o primeiro maço de cartas. Dividir um apartamento com a amiga Louise era divertido a maior parte do tempo, mas adorava a perspectiva de passar uns dias sozinha, tomando conta da casa dos pais. Ao mesmo tempo, ajudava uma outra amiga, Paula, hospedando-a em seu quarto vago enquanto ela procurava lugar para morar. Mas o ponto culminante de toda aquela mudança temporária seria a pesquisa sobre a jovem voluntária Rose Norman. Por enquanto, manteria a caixa de madeira trancada. Obviamente, continha algo especial, que só veria por último. O resto do material se compunha de cartas e cartões de membros da família, fotografias dos pais de Rose, da irmã Amélia, sempre muito distintos, tiradas por fotógrafos profissionais da época. Muito diferentes dos instantâneos captados a esmo por amadores quando as câmeras se popularizaram. Rapidamente, separou cartas e fotografias por ordem de data antes de acomod ...

r-se para ler os diários, que davam uma visão fascinante do cotidiano de então. A avó registrará também a proposta de casamento recebida de Gerald Rivers, um rapaz bonito em seu uniforme de oficial. Casaram-se, ele se despedira da esposa com um beijo respeitoso, partira para a guerra e aquela foi a última vez que se viram. ”Gerald morreu”, escrevera Rose, sucinta, em 1916. ”Mas não vou ficar aqui me lamentando. Deve haver um modo de tornar-me útil. Naquele instante, Rosana percebeu que não conseguia mais manter os olhos abertos. Bocejou cansada e subiu ao quarto para dormir. No dia seguinte, Rosana finalmente abriu a caixa de madeira e ficou tão transtornada com as revelações que resolveu dar uma corrida no parque para desanuviar a mente. De volta à casa, preparou-se para a visita do pesquisador. Em respeito à provável idade avançada do sr. Fraser, pegou emprestadas da mãe uma saia de linho e uma blusa branca de voai. Passou um mínimo de maquiagem e ainda prendia os cabelos úmidos num coque quando a campainha tocou. Desceu a escada correndo, abriu a porta e, sem entender, contemplou o homem à sua frente. Não se tratava de senhor de idade, mas de um rapaz alto, bonito, o rosto anguloso em malares altos e pele bronzeada. Os cabelos negros volumosos precisavam de um corte. Devia ser um pouco mais velho do que ela. Trajava jaqueta leve de tweed sobre camiseta branca, calça jeans e mocassins. Parecia-lhe familiar. Ele também a olhava surpreso, ou melhor, estupefato, e Rosana enrijeceu-se. O rapaz empertigou-se, digno. - Boa tarde - saudou, com um pigarro. - Sou Fraser. - Olã - cumprimentou Rosana, recomposta. - Minha mãe me disse que o senhor viria hoje. - Gostaria de uma prova de identidade? - Ele mostrou uma credencial com sua fotografia e assinatura. Era de fato E.A. Fraser, membro da associação de jornalistas. - Pode também telefonar para a redação do jornal Sunday Mercury. - É onde o senhor trabalha? - Não, mas me ...

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