Livro: Asgard Página 3
Autor - Fonte: Juliana Dalla
...
voltar pro Vale das Almas —
avisou a criaturinha. — Mas antes, me conte como entrou
aqui. Exijo uma boa explicação!
— O que você quer de mim?! Não me faça mal,
por favor!
— Pare de assustá-la! — pediu o velho Terminus,
surgido como que do nada.
— Ela tem que se explicar, senhor! Não é todo dia
que um espírito do Vale entra em Olimpo.
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— Será que você não percebeu? Ela não fala a nossa
língua nem é gelatinosa — considerou o deus da fronteira, enquanto
guardava a trena no único bolso de sua calça de couro.
— A jovem é de carne e osso!
— De carne e osso?! Como isso aconteceu?
— Isso nós vamos descobrir.
Após um longo suspiro carregado de preocupação,
Terminus chamou num só grito:
— Yooo!
O vento começou a soprar forte. Ísis olhou para cima
e viu um dragão vermelho e lunado. Tomada pelo pavor,
achegou-se a poucos milímetros do abismo.
— Do Vazio ninguém volta — alertou Terminus. —
É melhor você ficar onde está.
Embora Ísis não tivesse compreendido uma só palavra
pronunciada pelo velho, seu olhar dizia claramente que se jogar
não era a melhor alternativa. Como não havia outra, Ísis
encolheu-se no chão. O zunzunar do vento causado pelas asas
do dragão fez suas mãos suarem e seu coração descompassar.
Então desmaiou.
***
Entre as árvores mais robustas da floresta de Olimpo, nas cercanias
do palácio real, destacava-se solitária uma casa inteiramente
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construída com obras de arte dos mais renomados artistas. Era
a morada de Apolo.
— Nada de contornos nítidos, percebe? Exemplo clássico
de uma pintura impressionista — explicou o deus da arte,
mostrando ao rei sua nova aquisição (Apolo era a única deidade
que vez ou outra entrava no Céu e no Inferno para encomendar e
buscar obras de artistas falecidos).
— Quem o pintou? — perguntou Thor. — Monet?
Seurat?
— Michelangelo! Como ousa confundir Monet com
Seurat? — dramatizou o sábio. — P
...
re de chutar, Thor! Um
rei precisa ter convicção. Seu pai era um homem de convicção.
Thor espremeu os olhos na tinta sobre a tela, tentando
descobrir sua convicção. Foi interrompido pela entrada
do deus-vento na casa, que ventaneou ao rei notícias
palacianas.
— Por que Vayu não dá seus recados do lado de fora?
Nhá! — grunhiu Apolo, arranjando os papéis rebuliçados
por ele.
— Em nosso reino, Apolo. — balbuciou Thor. —
Uma mulher de carne e osso entrou em nosso reino!
— Michelangelo!
***
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Num pequeno povoado de Eéia, a taberna de Dionísio fervia.
Regados a vinho, moradores vibravam seus corpos ao som de
aldeões talentosos. O álcool dava ao lugar um aspecto sinuoso,
enleado e profano.
Do chão tabernal suado, surgiu Hela.
— Pontual como sempre — observou Dionísio ao
vê-la chegar.
A diaba desfilou sua ruividão sublime no corredor
dos quartos orgiásticos. Num deles, Circe a aguardava. Sim,
elas tinham um romance clandestino. Para Circe era um caso
carregado de expectativa (“Um dia, levarei você ao Norte
pelo mundo subterrâneo.”) e para Hela, de prazer (“Sou a
mais bela, é verdade. Muitos e muitas me querem. Mas só
você me tem.”)
***
Assim como o canto do galo no mundo dos homens, o vôo
da Quetzalcóatl até o ponto mais alto do Monte Olimpo
anunciava o nascer de mais um dia.
Embora desmaios levassem minutos, o de Ísis havia
atravessado a noite. Ao acordar, percebeu que aquele não
era o seu quarto, tampouco o quarto do hotel onde estava
hospedada com Mateus na Patagônia. Então lembrou da
fenda, e de Terminus, e do dragão, e de Trênus — nessa
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ordem. Olhou para o lado. Um rapaz bonito e fantasiado
de rei a observava.
— Como vim parar neste quarto. com você? Aliás,
quem é você? — perguntou ela, levantando as costas da cama.
— Posêidon chegou com a água? — perguntou Thor
aos faunos que faziam vigília na porta do quarto.
— Cheguei, Alteza! — avisou o s ...
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