Livro: Amarras da Ilusão Página 2

... cerrou os dentes diante da reação previsível no seu baixo-ventre. Ainda a queria. Duvidava que o desejo que sentia por Elisa algum dia houvesse diminuído. Não diminuíra em um ano de afastamento. Um ano no qual não tinha sequer sido tentado a tocar outra mulher. Tal desejo físico poderia compensar por muitas coisas. até mesmo casamento. O único caminho deixado aberto para ele. A única maneira que poderia reparar seus pecados. Elisa disse algo para o casal ao lado dela e retirou uma bandeja com anéis de diamante de um mostruário. Foi naquele momento que o viu. A cor esvaeceu-se do rosto e dos olhos, deixando-os nublados. Aquela reação era oposta à que ela tivera uma vez na presença dele, quando os olhos dela tinham se iluminado com afeição e boas-vindas. Não havia nada disso agora, e o que mais se evidenciava era o horror na sua expressão. A bandeja tombou da mão dela e caiu com um barulho seco sobre a tampa de vidro do mostruário. — Você está bem? ELISA OLHOU para a jovem cliente que tinha acabado de falar, em vez de focalizar o fantasma parado junto à porta da joalheria. Esforçou-se para esboçar um sorriso. — Sim, estou bem. — Ela estendeu a bandeja de anéis. — Quer dar uma olhada no solitário de brilhante? Os olhos da moça iluminaram-se e ela assentiu, voltando-se para o noivo com uma expressão tão amorosa que chegou a entristecer Elisa. Havia se sentido daquela maneira um tempo atrás. Mas Salvatore destruíra seu amor tanto quanto, certamente, o infortúnio tinha destruído o bebê deles. Retirando o anel em questão da fenda na bandeja de fundo aveludado, ela sorriu mais verdadeiramente para o jovem casal. Era uma coisa boa amar e ser amado. O fato de que a própria vida tivesse pouca esperança para tal efeito não era razão para diminuir a alegria que aqueles dois estavam obviamente sentindo. — Por que você não experimenta este? O rapaz, chamado David, pegou o anel e enfiou-o no dedo da noiva com o ...

semblante terno. — Cabe perfeitamente — suspirou ela. O sorriso de Elisa já não foi tão difícil, agora. Aquilo representava uma outra venda. A Joalheria Adamo precisava vender, desesperadamente. — É muito bonito — palpitou Salvatore aproximando-se. Ela quase havia se convencido de que ele não estava ali. Que tinha sido um lapso de sua imaginação, um sonho, ou melhor, um pesadelo. A garota ergueu a cabeça e sorriu para Salvatore como se ele fosse alguma espécie de benfeitor, quando Elisa sabia que ele não era nada disso. — Obrigada, signor. — Pela aparência do anel, devo dar-lhes os parabéns — disse Salvatore. Foi a vez de David sorrir. — Oh, sim. Vamos nos casar tão logo voltarmos para casa. — Isso não é romântico? — disse a garota alegremente. Então olhou para o futuro marido. — Nós nos conhecemos quando estávamos numa viagem de turismo pela Europa. Amamos tanto a Itália que decidimos ficar mais duas semanas depois da excursão. — E então decidimos nos casar. — David parecia muito satisfeito com tal situação, o forte sotaque texano pondo ênfase na palavra "casar". — Parabéns. Estou certo de que vocês serão muito felizes — disse o homem que abominava a palavra "compromisso". Elisa o ignorou enquanto o casal de noivos agradeceu pelos votos de felicidade, comprou o anel, pagou e então partiu. Depois que eles se foram, ela ocupou-se arrumando as jóias dentro dos estojos, a fim de disfarçar a lacuna deixada pela mercadoria vendida. Não tinha mais nada para colocar lá, e não faria isso até depois do leilão. Não havia fundos para comprar mais pedras, quanto menos o ouro para cravejá-las. — Fingir que não estou aqui não me fará ir embora. Elisa virou-se e o encarou, desprezando o impacto físico que a presença dele ainda tinha sobre seu corpo. Os mamilos enrijeceram e sentiu uma reação no íntimo que não experimentara nos últimos doze meses. Era a reação ao seu companheiro nat ...

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