Livro: Armadilhas da Inocência Página 2

... Eu sei. Isso também acontece comigo. — A polícia avisara a Crystal na noite do terrível acidente de carro dos pais de Marianne. Crystal lhe telefonara imediatamente, e Marianne havia saído de seu apartamento em Londres alguns minutos depois. Durante a via¬gem de volta para Cornwall, estivera em profundo estado de cho-que, rezando o tempo inteiro para que não chegasse tarde demais. Crystal lhe contara que seu pai fora declarado morto no local do acidente, mas que a mãe ainda estava resistindo bravamente. No momento em que Marianne chegara ao hospital, sua mãe conseguira contar à polícia que o marido havia desmaiado ao vo¬lante, e o carro, perdido o rumo na estrada, batendo violentamente contra uma árvore. Marianne tivera cinco minutos preciosos com a mulher que fora tanto sua mãe quanto sua melhor amiga. Cinco minutos que durariam para o resto de sua vida. A autópsia revelara que seu pai sofrerá um enfarte fulminante, e provavelmente estivera morto antes mesmo de o carro bater na árvore. Todos concordaram que fora uma terrível falta de sorte ele ter estado dirigindo no momento. Forçando-se a reprimir os pensamentos tristes, Marianne perce¬beu que Crystal estava enxugando os olhos novamente. — Eu aviso que eles podem ir para a sala de jantar, Crystal. Tudo bem? — Não, não. Se você pode se controlar, eu também posso — protestou Crystal, tremendo. — Eu farei isso. As duas se entreolharam por um longo momento, conseguindo forças uma com a outra em meio ao sofrimento, e então Crystal se retirou. Marianne olhou para seu relógio de pulso, um presente de seus pais pelo seu aniversário de 21 anos, seis anos antes. Uma da tar¬de. Com sorte, os membros da família e os amigos iriam embora por volta das quatro. Ela ouviu a voz de Tom Blackthorn quando chegou à porta da sala de estar e o viu parado com um homem alto que notara vagamente antes. Tom era o advogado e amigo de seu pai. Ele tinha pedido para ficar depois que os outros fos ...

em embora, de modo que pudesse ler o testamento dos pais de Ma¬rianne. Mas ela sabia que não era só isso. Ele sentiria que era seu dever avisar que uma propriedade tão grande como Seacrest era responsabilidade demais para uma jovem, que faria mais sentido vender. Marianne não lhe daria ouvidos. Seacrest estava em seu sangue. Estivera no sangue de seu pai e no do pai de seu pai. Fora seu tataravô quem construíra a enorme casa de pedra no alto do penhasco mais de 150 anos antes, e os Carr viviam ali desde então. Apesar de Marianne ter herdado a propriedade muito cedo, manteria sua ama¬da casa enquanto tivesse forças para fazê-lo. A propriedade fazia parte dela, como fizera parte de seus pais. —Ah, Annie. — Tom a conhecia desde que ela era bebê e, quan¬do colocou um braço paternal ao seu redor e a puxou gentilmente para seu lado, ela teve de reprimir as lágrimas. Para combater a fra¬queza, manteve a coluna ereta e os lábios apertados. — Quero que conheça o filho de um dos velhos amigos de seu pai. Rafe Steed, Marianne Carr. A luta interior de Marianne para manter a compostura e o controle de sua dor durante o funeral quase a deixara cega e surda. Agora, pela primeira vez naquele dia, olhou apropriadamente para o homem que tinha visto mais cedo na igreja, e, depois, no cemité¬rio com Tom, vendo-o agora como uma pessoa, em vez de apenas mais um vulto vestido de preto entre muitos. O educado "muito prazer", que estivera na ponta da língua não chegou a ser dito. Ele era alto. Muito alto. E grande. Não estava sorrindo. Não que fosse o momento ou o lugar para sorri¬sos, ela supunha, mas havia algo nos olhos profundamente azuis que era enervante. Depois do que pareceu uma eternidade, ele falou: — Por favor, aceite minhas condolências em nome de meu pai, Srta. Carr. Problemas de saúde o impediram de deixar os Estados Unidos e vir pessoalmente, mas ele queria prestar seu respeito. A voz profunda era muito fria, embora o timbre fosse edu ...

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