Livro: Sob o céu do desejo
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... ABANDONED Carolyn Davidson Uma mulher sem passado teria o direito de sonhar com o futuro? Única sobrevivente de um ataque de índios ao trem em que viajava, Elizabeth Travis, de repente, vê-se só e desamparada. Sofrendo de amnésia, ela é encontrada e resgatada pelo sedutor Cameron Montgomery, que cuida dela de um jeito mais que especial. Mas como ela poderia ceder ao desejo sem saber o que se escondia em seu passado? Digitalização: Joyce Revisão e formatação: Ana Ribeiro PRÓLOGO O fogo estava por toda a parte e, para Elizabeth, era como se o calor das próprias chamas do inferno a envolvesse. Embora as roupas protegessem sua pele, o peso do algodão e do linho sobre o corpo parecia quase insustentável. Mesmo com os olhos abertos, via apenas o clarão vermelho das labaredas que consumiam a carroça, por isso piscou, na frenética tentativa de clarear a visão. Um vulto estava parado perto dela. Um homem. Quase nu, segurando uma arma. Se esta seria sua última lembrança em vida, era certo que seria um prefácio do próprio inferno, já que não podia pensar em nada pior que dar seu último suspiro nas mãos de um monstro carregando uma machadinha. Mesmo que esse não fosse o nome certo para a arma, ela pensou. O cérebro parecia estar funcionando lentamente, pois o homem que se agachou ao seu lado movia-se com vagar, uma das mãos erguendo a arma bem alto, a outra segurando-lhe os cabelos. Então ele hesitou, os olhos escuros avaliando os longos cachos dourados que tinha nas mãos. Ela ficou paralisada por um bom tempo, os olhares de ambos fixos um no outro. A boca do homem se abriu deixando escapar um som gutural, uma palavra que soava como uma maldição. Ele lhe soltou os cabelos, levantou-se abruptamente e então ergueu Elizabeth, afastando-a das chamas. Como se não soubesse o que fazer, aproximou-se de um cavalo, sem desviar os olhos dela. Elizabeth queria acordar, pois nada daquilo podia ser ...

eal, mas sentiu um grito de desespero assomar na garganta quando concluiu que estava realmente vivenciando aquele pesadelo. Uma outra voz pôde ser ouvida e o homem que a carregava respondeu ao chamado, gritando palavras ininteligíveis que ela em vão tentou compreender. Com um olhar de pena, ela pensou, ou de resignação, ele a colocou no chão. Elizabeth fechou os olhos. Não queria testemunhar o golpe que lhe traria a própria morte, mesmo que uma pequena parte de sua consciência soubesse que ele a deixaria ali, viva. Com o rosto machucado, os olhos ardendo, ela se encolheu, temendo muito mais enfrentar a morte que encarar aquele homem. A madeira da carroça estalando, devorando a si mesma através do fogo, quebrava o silêncio. O som das vozes e da movimentação dos homens tinha cessado. Na verdade, era como se estivesse sozinha. Não havia mais gritos. Não havia mais a sensação de estar sendo observada por olhos que pareciam devorá-la. Ela ergueu a mão, devagar, porque seus braços e ombros certamente estavam queimados, a dor que sentia era grande. Os dedos buscaram novamente a região dolorida perto da têmpora, e ela se encolheu ao sentir a ferida aberta latejar. Esfregando os olhos, que a fumaça e o fogo haviam deixado lacrimejantes, olhou para os dedos e não se enganou ao ver as manchas avermelhadas. Aquela substância luzidia era seu sangue. Elizabeth respirava bem devagar, imaginando se as feridas eram fatais, mas, naquele instante, soube que sobreviveria. O pai havia dito que ela era forte o suficiente para sobreviver àquela viagem até uma nova terra onde a fortuna os aguardava. Forte o bastante para resistir ao calor e à estrada sulcada que levava ao Oeste. Em memória dele, do homem que a guiara até tão longe, que a amara e a protegera da melhor maneira possível, Elizabeth devia sobreviver e honrar a fé que fora depositada nela. Mas ele não estava ali, não estava ao lado dela. Seu coração o chamava em vão, sussurrando-lhe o ...

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