Livro: Coração Ilegitimo Página 2

... seu vestido cor de lavanda de chiffon. Imagine, uma mulher adulta manchar a roupa daquele jeito comendo uma ameixa madura. Ela deveria se comportar como a princesa de Castaldini que era, afinal, e fazer as aparições públicas necessárias usando roupas estritamente adequadas. Quatro anos nos Estados Unidos cursando Administração em Harvard não haviam melhorado sua habilidade de lidar com aparições em público. Ela fez uma careta para a mancha visível. — Oh, meu Deus! Lá está ele de novo! Clarissa se virou. Não para ver de quem se tratava, mas para procurar sinais de embriaguez em sua melhor amiga. Luci se abanava. — Achei que de perfil ele fosse inacreditável. Mas de frente ele é devastador! Clarissa não podia acreditar no que ouvia. Luciana Montgomery, cujo feminismo e puritanismo norte-americanos predominavam sobre suas raízes de Castaldini, era a última mulher do mundo que ela esperava ouvir louvando a beleza de um homem daquela forma. — Por favor, Luci, contenha-se. Você está falando tão alto que ele está olhando para cá. Quanto champanhe você bebeu? Clarissa se endireitou para analisar o fenômeno que fizera com que a mais equilibrada mulher de 22 anos que ela conhecia parecesse uma colegial tola. — Vamos ver o que é que. As palavras morreram em sua garganta. Ele não era apenas um deus. Ele superava todas as representações divinas que ela jamais vira. Não poderia ser real. Mas era. Bem, parecia ser. E olhava na direção delas. Na direção dela. O coração de Clarissa deu uma cambalhota. Tempo esgotado. Ela só conseguia ver os olhos dele. Ah, que olhos. Céus tempestuosos iluminados por um raio, todo o seu poder atingindo-a. De repente ele desviou o olhar. E ela entendeu o motivo. O pai dela. O rei Benedetto aparecera ao lado dele com um sorriso largo no rosto, um sorriso que ela não se lembrava de ver havia muito, muito tempo. Seu pai falou, o homem ouviu. Ela percebeu que se movia, sem ter consciência ...

e nada nem ninguém, apenas precisando estar mais perto para entender o que estava acontecendo. De repente, o homem deu as costas para o rei, envolvendo-a novamente com seu olhar avassalador. Clarissa mal conseguia respirar e não sabia o que fazer. O choque a atingiu como água gelada. Era inconfundível o que ela via em seus olhos agora. Frieza. Hostilidade. O que significava uma coisa. Ela estava errada. Não houvera nenhuma rajada de atração. Era ago que existira por segundos e apenas em sua cabeça. Clarissa se deixou ficar parada, no meio do salão, sem reação ou rumo, até que Luci veio até ela. — Meu Deus, o quê foi aquilo? Clarissa não poderia articular um pensamento, quanto mais uma resposta. — Aquilo era o "Temível Homem de Ferro". Ela se virou para observar a dona daquela voz rouca. Stella, a mulher que sempre causava arrepios de horror em Clarissa. Graças a Deus, eram somente primas em terceiro grau, então se viam muito pouco. Ante a falta de reação das duas, Stella continuou: — Ferruccio Selvaggio, magnata, 32 anos, um dos homens mais ricos do mundo. Ele é como uma bola de demolição, subindo alto, pulverizando quem ousar ficar em seu caminho. Por isso o apelido, que também é significado de seu primeiro nome. — Segundo você, claro — disse Luci maliciosamente. — Segundo o conhecimento geral. Ele é um terror. Mas, caso ele vá investir pesado em Castaldini, a julgar pelo entusiasmo do nosso rei, esse fato será desconsiderado, assim como o outro fato, o de que Ferruccio é literalmente um bastardo. — Meu Deus, Stella, espero que ninguém pense que você é um exemplo do que o sangue real faz com uma pessoa — disse Luci. — Seria tão injusto se você desse a todas nós a reputação de sermos vadias desalmadas e sem coração. Stella não se deixou abalar. Ela era o tipo de mulher que mantinha a elegância e uma sensualidade sutil em público, só revelando sua verdadeira face quando a sós com outras mulh ...

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