Livro: Escrava de uma ilusão Página 4

... ndo Lucinda estava por perto. — Eu não entendo como você pôde deixá-lo — repetiu num sus¬surro, como se pensasse em voz alta. — Ele é o mesmo de sempre, embora esteja cego. Lucinda voltou-se com irritação e Tessa recuou um passo, afastando-se do espelho. — Eu não tenho a intenção de me casar com um homem cego, ponto final! — exclamou Lucinda, com o rosto vermelho. — Além disso, as mãos dele ficaram queimadas. . . — Muito queimadas? — Terrivelmente. . Ah! devem ser horríveis! Eu não as vi depois do acidente, porque estavam cobertas com ataduras, mas não posso pensar nisso sem sentir um frio na barriga. . . Imagine só ele tocar em mim! As lágrimas umedeceram os olhos de Tessa. Enxugou-as sem a irmã perceber. — São as mesmas que você gostava tanto — disse em voz baixa. — Como foi que ele queimou as mãos? — Eu já disse a você. Eu estava inconsciente! Não vi nada. — Paul não contou como foi? Você o visitou no hospital? — Claro que sim, mas ele não contou nada. — Estranho — murmurou Tessa pensativamente. Ocorreu-lhe então, pela primeira vez, que Lucinda estava mentindo ou omitindo um fato importante. — Estranho? Por que estranho? — Deu uma risada repentina. — Se ele se queimou, foi por culpa dele, e eu não tenho nada a ver com isso! Ah, pelo amor de Deus, não me olhe com essa cara! Eu sei que você teria se casado assim mesmo! Mas você é uma heroína, que se sacrifica pelos outros, e eu não sou. . Por que não vai pro¬curá-lo e lhe oferece sua simpatia? Talvez ele se interesse por você agora. . . Talvez a peça inclusive em casamento, porque ninguém vai querer casar-se com ele nesse estado! Embora agredida profundamente pelas palavras cruéis da irmã, Tessa manteve-se calma. — O que foi que ele disse quando você o deixou? — Ah, disse simplesmente que não podia acreditar, mas tudo não passava de fingimento, no fundo. — Eu não creio que Paul fosse fingir uma coisa dessas. ...

— Para você ele é perfeito, não é mesmo? — zombou Lucinda com uma certa irritação na voz. — Pois olha, isso servirá para você ter uma idéia do quanto ele é convencido e vaidoso. Ele disse que, se eu mudasse de idéia um dia e pedisse perdão, me receberia de volta. O que me diz disso? Não é o cúmulo do convencimento? — Ele deve gostar muito de você para perdoá-la depois do que aconteceu — disse Tessa pensativamente, enquanto observava Lucinda passar a última camada de pó compacto no rosto. Lucinda limitou-se a balançar os ombros e Tessa engoliu em seco, sem saber o que dizer. Ser amada por alguém dessa forma, e jogar fora um sentimento tão puro quanto esse. — Como é Gerald? — Uma simpatia! — exclamou Lucinda com os olhos brilhantes. — Ele vai passar por aqui e você o conhecerá. Com uma sensação repentina de desânimo, Tessa olhou para o relógio. Havia tempo para tomar um banho rápido. Queria encerrar o quanto antes a conversa com Lucinda, que só servira para deixá-la mais deprimida. Alguns minutos depois, estava mergulhada na banheira, pensando no dia em que decidira sair de casa, ir para algum lugar onde não visse mais Paul e Lucinda juntos. Por uma sorte incrível, recebera uma proposta para dar aulas particulares de inglês na Alemanha durante as férias. De lá, embarcara para a Turquia, depois para o Líbano e, finalmente, para a Grécia. Lecionara ali durante três meses numa escola particular. Depois sentira saudades de casa, embora soubesse que o simples fato de rever Paul iria abalar a vida pacata que pretendia levar, lecionando inglês numa escolinha do interior. Ir para a Grécia não fora uma ideia muito boa, porque Paul tinha nascido ali, embora vivesse há muitos anos na Inglaterra. Ao sair do banho, Tessa embrulhou-se na toalha comprida e foi para o quarto. Lucinda já tinha saído. As duas camas estreitas estavam arrumadas com as bonitas colchas rendadas que Tessa mandara algumas semanas antes para ...

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