Livro: Cenário de Ilusões Página 3

... elaxar. Ele gostava de provocar-lhe essas reações e muitas vezes Mallory já se havia prometido controlar-se para não lhe dar esse prazer. Esperou até que o riso diminuísse e então indagou com a maior frieza de que era capaz: — Acabou de rir? Será que pode fazer a gentileza de me informar o assunto que tem para tratar comigo? — Acalme-se e tire essa mão da lata de bolachas. Gordura não melhora nada as coisas - explicou ele, paciente. Com um meio sentimento de culpa, Mallory devolveu a guloseima que já estava a caminho da boca. Se não soubesse que Jake a conhecia tão bem, diria que possuía visão à base de raios X. Com os sobrolhos franzidos, insistiu: — O que deseja? —Ora, um simples almoço de negócios, beleza. De vez em quando a gente precisa fazer isso. Ele sabia que estava levando-a às raias da loucura. — O texto, Jake, o que achou dele? — Esse é o nosso assunto durante o almoço. — Para quem você o mostrou? E por que o devolveram? O que havia de errado? Desta vez, Jake não riu. Suspirou longa e profundamente antes de falar com redobrada paciência. O sotaque tornava-se mais arrastado ainda quando tentava encobrir alguma coisa. — O que faz você pensar assim, beleza? — Porque se a notícia fosse boa, você a daria logo. Em vez disso quer me deixar tonta com vinho branco e ir contando a verdade devagarzinho - ela explicou, enquanto fazia um grande esforço para não gritar exasperada com o agente. — Sabe, essa neurose vai acabar enlouquecendo você - comentou ele com suavidade. — Encontre-se comigo no Marcetti\'s ao meio-dia e a gente vai ter uma conversa longa e agradável - acrescentou com firmeza. Pela experiência, Mallory sabia que não adiantava continuar insistindo. Além do sotaque do Texas, Jake havia trazido de lá também a teimosia de uma mula empacadora. A contragosto, ela concordou: — Está bem, ao meio-dia. — Olhe aqui, Mallory - disse então com voz bem séria, o que a fez estremecer. ...

— Lembre-se apenas de uma coisa, menininha: você é a melhor coisa que já apareceu neste negócio nos últimos vinte anos. É uma mercadoria das mais valiosas e por isso pode escolher à vontade. Você é para lá de boa, é excelente! Não se esqueça disso. As notícias só podiam ser péssimas, pensou desolada depois de ter desligado o aparelho. Percorreu o olhar pelo jardim, que perdera parte da graça. Imaginava se Jake fazia idéia do quanto valorizava este seu último texto e se, de fato, era tão bom mesmo como o considerava. Reagiu levantando os ombros e a cabeça. Como acabava de ouvir, era uma autora boa e se não tomasse cuidado sua neurose a levaria à loucura. Olhou em volta numa tentativa de recuperar o contentamento com que despertara. Afinal tinha apenas trinta e um anos e tudo aquilo era seu. A casa, em estilo rústico, ficava num ótimo bairro, não tão sofisticado como Beverly Hills, mas bem perto dele; o Porsche branco, zero quilômetro, havia sido pago à vista; roupa de cama e mesa com desenhos exclusivos; empregada três vezes por semana; quatro telefones; enfim, mil e uma coisas que bem poucas pessoas, na sua idade, já haviam conseguido por meio de trabalho árduo. Há cinco anos, tudo não passava de um sonho nebuloso e distante. No entanto, como se o céu se abrisse, os tesouros começaram a cair sobre a sua pessoa. "E se desaparecessem da mesma forma?," indagou-se aflita. Apanhou-se mais uma vez com uma bolacha a meio caminho da boca. Devolveu-a depressa à lata, que, com o resto, levou de volta à cozinha. Sabia que estava sendo infantil ao se deixar dominar pela insegurança, seu pior defeito. Precisava reconhecer o valor próprio e concordar com Jake que era uma das melhores escritoras de Hollywood e cobiçada por todos. O céu não se havia aberto para cobri-la com uma chuva de benefícios, não. Tudo o que possuía era fruto de esforço e trabalho próprios, qualidades essenciais para se chegar ao sucesso. Ninguém poderi ...

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