Livro: De volta para você Página 3

... m direção à casa. Um vento cortante soprava; a umidade do ar era intensa. Samuel suspirou e, apressando o passo, ergueu a gola do casaco. Era sempre assim, no final de novembro: a temperatura caía sensivelmente, prenunciando a chegada do inverno, para o mês seguinte. Dois cães collies, Leo e Jake, acompanhavam Samuel e faziam-lhe festas. Ele parou para acariciá-los: — Parece que hoje vocês resolveram dormir na varanda lá de casa, e não no celeiro, hein? - disse, num tom divertido. — Certamente não sentirão frio, já que tem "casacos naturais" - acrescentou, acariciando o dorso peludo dos animais. Como se compreendessem as palavras do dono, os cães logo acomodaram-se na varanda lateral da casa, sobre um pequeno estrado de madeira, forrado com uma lona grossa, e colocado ali especialmente para ambos. — Então já vão para a cama, hein? - Samuel sorriu, ao vê-los aconchegados um ao outro. — Estão com a barriga cheia de ração e agora não pensam em mais nada. Quanto a mim, ainda tenho uma série de coisas a fazer, e ainda não posso me dar ao luxo de descansar. Depois dizem que o homem é mais inteligente do que os animais. Pois sim! - exclamou, contornando a casa em direção à porta da cozinha. Abriu-a e encontrou Elza que, junto com Kathleen, preparava o jantar: — Alô, mamãe - ele saudou a velha senhora, beijando-lhe os cabelos brancos. — Alô, querido - Elza respondeu, sorrindo para o filho. — Como foi o trabalho, hoje? — Tudo bem. Passei a maior parte do tempo no celeiro, estocando a colheita. Este ano tivemos uma safra de aveia que ultrapassou as expectativas. - aproximando-se da irmã, que sorria para ele, beijou-a em ambas as faces: — Kathleen, que bom vê-la por aqui. Veio passar alguns dias conosco? Antes que a filha respondesse, Elza adiantou-se: — Consegui convencê-la a ficar aqui até o Natal. — Ora! - Samuel reagiu, satisfeito. — Isso é realmente maravilhoso. — Na verdade, e ...

só pretendia ficar até o dia de Ação de Graças - Kathleen explicou. — Mas você conhece mamãe e papai: quando resolvem convencer-nos de uma coisa, não desistem até conseguirem. — Eu sei - Samuel aquiesceu, divertido. — Mas confesso que, nesse caso, concordo com papai e mamãe. Não faz sentido você ficar sozinha em sua casa, maninha. O melhor que tem a fazer é passar uma temporada conosco. — Sim, mano - Kathleen concordou, com um profundo suspiro. — Aquela casa me traz recordações muito tristes, agora. Umas boas férias por aqui me farão bem. — Assim é que se fala! - Samuel afirmou, entusiasmado. Há meses que se preocupava com Kathleen, que entrara numa depressão profunda, logo que o marido falecera, num trágico acidente. Mudando de assunto, ele indagou: — Onde está papai? — Foi visitar o velho Ernest, que esteve adoentado - Elza respondeu, destampando uma grande caçarola e verificando seu conteúdo. — Foi a pé? - Samuel indagou. — Sim. Disse que estava precisando de um pouco de exercício e não quis que eu chamasse você, para levá-lo de caminhonete até a casa de Ernest. — Papai não tem juízo. Onde já se viu andar a pé, com um tempo desses. — Você o conhece o suficiente para saber que nada o faria mudar de idéia - Kathleen comentou. — Mas ele prometeu que estará de volta para o jantar. — Falando nisso. - Elza pediu —, vocês não querem provar um pouco deste molho de carne com legumes, para ver se está bom? Kathleen e Samuel obedeceram e ele foi o primeiro a opinar: — Está ótimo, mamãe, como tudo o que você faz. — Tem certeza de que o sal não passou do ponto? — Certeza absoluta. — Eu colocaria mais um pouco de pimenta - Kathleen sugeriu. — Mas, por favor, não leve o palpite a sério, mamãe, pois você sabe o quanto sou exagerada quando se trata de pimenta. — Eu sei, sim - Elza censurou a filha, num tom carinhoso: — E é melhor você parar com isso, ant ...

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