Livro: Caminho de volta Página 3

... rnanta, morena e bonita. Ele se fazia presente nos piqueniques, ajudava as crianças na construção de diques no riacho, mostrava ninhos, rastros de cobras e até as próprias cobras. Gostava de falar da mata. Graças a ele, os dias de piquenique eram excitantes, e fora um choque para Dale descobrir o lado selvagem e mulherengo de seu caráter. A prima Rebie acabou descobrindo que Trelawney fora obrigado a abandonar sua antiga estação e vir para Jackalass porque vinha beijando Stephanie, a noiva de Ray Saber. — E sabe por que o avô mandou-o para estes lados, antes disso? — Rebie perguntava a Dale, seus olhinhos míopes excitadíssimos por detrás dos óculos. — Ele tinha um caso com a filha de um empregado da fazenda! Com tudo isso, Dale não ficara surpresa quando Trelawney se viu obrigado a deixar Jackalass. É claro que tio David não ia tolerar aquela presença incômoda. Ela às vezes se perguntava o que teria acontecido a Trelawney. Imaginara-o trabalhando em alguma outra fazenda de gado, mas nunca que se tivesse transformado em um bêbado. Era uma sensação estranha, mas ela estava desapontadíssima com ele. Antes de deixar o quarto, apanhou a garrafa de whisky. Ele não iria beber mais naquela noite. E agora, o que fazer? A idéia de dormir ali era impraticável. O Trelawney libidinoso de suas lembranças já era suficientemente ruim, mas o de agora, estirado ali no quarto, era bem pior. Quanto maior a distância entre eles, melhor. Tornou a descer as escadas, bastante transtornada. Lembrou-se com esperança da cozinheira, e foi rumo à cozinha, após livrar-se da garrafa. Ali chegando, quase não sentiu os familiares aromas de flores e óleos, ocupada como estava com seu dilema. Pressentia, de alguma forma mesmo antes de olhar no quarto vizinho à cozinha, que ninguém estaria ali. Com efeito, o quarto já não mais era habitado: havia se transformado em quarto de costura. Dale abandonou-se em um sofá, evitando o reflexo de sua figur ...

no grande espelho da parede, uma reminiscência dos velhos tempos. Não sabia se chorava ou se pulava no carro e embarafustava estrada afora. Mas, para onde? E depois, não fazia o menor sentido viajar tanto para ir-se embora assim, sem ao menos saber o que acontecera à família. Lembrou, de repente, que poderiam estar visitando outra estação. É claro! Convenceu-se de que era assim. Um casamento, provavelmente, piqueniques; algum tipo de celebração. Maldito Trelawney Saber! Já que estava ali, não poderia estar sóbrio, em condições de explicar-lhe tudo? Talvez estivessem todos visitando Ray Saber em Warathar, o que explicaria a não participação de Trelawney, se bem que não explicasse a sua presença na casa. Bem, mas o que fazer? Seu olhar vagueou pensativo pelo quarto. Podia fazer uma cama ali mesmo, trazendo colchão e roupas de cama de algum dos quartos de cima e colocando-os no chão, e trancando bem a porta, como havia sido tola por não avisá-los de sua chegada! Mas a história de Andrew tinha deixado seus nervos em petição de miséria, a ponto de não saber mais o que fazia. Dale cortou bruscamente o fio de seus pensamentos: não devia pensar em Andrew. Sim, ia dormir ali. Com isso decidido, dirigiu-se à cozinha, onde encontrou leite e ovos. Bebeu e separou os ovos para depois de arrumar a cama. Uma vez no andar superior evitou os quartos, preferindo o estofamento de uma das espreguiçadeiras da varanda. Apanhou ainda, no armário, dois lençóis, uma fronha, uma colcha e uma toalha de banho. Nessas alturas, a carga já era bastante volumosa, e Dale começou a temer por um acidente, no momento de descer. Parou, ouvindo atentamente: escutava com nitidez a respiração de Trelawney, e não pôde evitar a raiva que sentia por ele estar dormindo. Acordado, poderia ajudá-la com todas aquelas coisas. Mas era melhor que ele não acordasse mesmo, pois não tinha a menor vontade de vê-lo abobalhado pela bebida. Dividiu então a carga ...

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