Livro: Caminho de volta Página 2

... cinco dias atrás, em uma loja de decoração de Rockhampton. Por Deus! Tudo tão diferente do que imaginara. Esperava uma acolhida familiar, ainda que Beth e David fossem seus tios apenas por afinidade. Surpresa, excitamento, afeto e conversa. Horas de papo, à volta de xícaras de chá e ovos mexidos, dando chance a que todos colocassem as novidades em dia. Dale explicaria por que havia chegado tão tarde: dois dias e meio de viagem, saindo de manhã cedinho, até que esta tarde fora obrigada a descansar um pouco, sob pena de desmaiar de cansaço. Imaginara-se falando à tia Beth sobre Andrew, antes de ir para a cama; vira-se chorando naquele afável peito maternal. Iria ser como da outra vez, quando ela tinha nove anos e fora posta de lado pelo pai, ao se casar pela segunda vez; como tia Beth a confortara então! — Você vai adorar esta casa, queridinha! — tia Beth havia dito do jeito mais maternal possível, se bem que se encontrassem pela primeira vez. Fora um período desastroso para Dale, quando seu mundo desmoronara por completo. E ela agora estava em situação semelhante, e igualmente necessitada de consolo. As lágrimas começaram a correr, os lábios tremiam; onde estaria tia Beth? — Oh, por favor! — ela murmurou, levando os dedos à boca, num gesto de desamparo. Sua voz parecia estranha e irreal no silêncio da casa. Onde estavam todos? Como é que ninguém a vira entrar, as luzes sendo acesas? Alguém tinha de estar lá: o gerador estava em funcionamento. E, além disso, havia uma xícara na mesa de jantar. Subiu as escadarias em direção aos quartos. No topo, havia uma espaçosa varanda onde se dormia nas noites muito quentes. Dale se dirigiu a ela, acendeu as luzes e chamou baixinho por tia Beth. Ninguém respondeu. Após alguns momentos, começou a caminhar pela varanda, parando em frente a cada porta de quarto, em busca de algum dos Vining. Na última porta, ouviu ruídos de respiração pesada, acompanhados de um forte ch ...

iro de whisky. Não podia ser tia Beth, mas quem seria? Nenhum dos membros da família estaria se encharcando de whisky daquela forma. — Quem está aí? Está acordado? As palavras saíram trêmulas, envoltas na escuridão quente e pesada do quarto. Como não obteve resposta, Dale acendeu as luzes resolutamente, lutando contra um leve sentimento de pânico, e deparou-se com Trelawney Saber. O avó dele era o proprietário da fazenda de gado que demarcava o limite externo daquela grande propriedade e havia sido expulso dali algum tempo atrás. Trelawney jazia na cama desarrumada completamente vestido, exceto pelos pés descalços. Sua camisa em desalinho estava para fora das calças estreitas e empoeiradas. Ele nem ao menos piscou, apesar da luz que ela acendeu. Dormia pesadamente. Dale reparou no copo e na garrafa semi-vazia que se encontravam no criado-mudo ao lado da cama, antes de voltar a fitá-lo; sua face macilenta parecia ter envelhecido mais que os dez anos passados desde que o vira pela última vez. Estaria com trinta e poucos anos, mas aparentava muito mais. Seria resultado do álcool? Dale estava terrivelmente perturbada. Seus olhos passearam pelo cabelo espesso que se esparramava pela testa do homem, dando a impressão de estarem acostumados a dedos em lugar de pentes. Aproximou-se e, reclinando-se sobre ele, chamou-o. Trelawney não abriu os olhos, limitando-se a mudar de posição e franzir a testa. Soltou uma imprecação, acompanhada por um arroto recendendo a whisky. Dale levantou-se, nauseada. Não esperava que ele fosse dado a beber, apesar de suas outras falhas, quase todas relacionadas a mulheres. Quando ela chegou a Jackalass, ele trabalhava para seu tio, Ray Saber, em outra estação, mas aparecia esporadicamente. A princípio, Dale pensou que o motivo destas visitas fosse Buff, que viera passar as férias escolares em casa e estava obviamente apaixonada por ele. Descobriu depois que ele vinha por causa de Arnoldine Bell, a gove ...

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