Livro: As Bruxas de Kenwood Página 3

... do boas maneiras. Não importava o que pensasse sobre a moça mais nova, Christina era honesta o suficiente para reconhecer-lhe a beleza. Os cabelos negros emol¬duravam o rosto oval de traços perfeitos, entre os quais se destacavam os olhos verdes e brilhantes e os lábios cheios, de um vermelho-vivo. Para, o passeio na praia, Roxanne pusera um vestido que pertencera a Christi¬na, mas os seios mais desenvolvidos que os da meia irmã aos quinze anos forçavam o tecido ao máximo. As feições bonitas, agora, achavam-se marcadas pela raiva. — Windom de novo por aqui! — protestou Roxanne na voz bem mo¬dulada, quase musical, que lhe era característica. Como a observação não exigisse comentário, Christina teria recomeça¬do a caminhada se Roxanne, inesperadamente, não persistisse em conversar. — Você viu "o senhor" hoje? Esta era a maneira com que ela sempre se referia ao conde. Mesmo de¬pois da morte de Leonie, a mãe, quando fora tirada do casebre onde vi¬viam e trazida para o castelo de Kenwood, jamais usara a palavra "pai". Se falava a respeito dele, dizia "o senhor" e, "milorde", caso se dirigisse a ele. Algo no seu tom de voz revelava que o tratamento não traduzia o mesmo respeito de quando era usado por outras pessoas. O conde havia sacudido os ombros quando Jacobina externara desaprovação e sugerira um castigo. — Ela acabará aprendendo — afirmara o pai. Isso foi há três anos e o que Roxanne havia aprendido nesse período de tempo certamente não transparecia no seu modo de falar ou de se conduzir. Christina clareou a garganta e respondeu, enquanto recomeçava a andar: — Vi papai hoje, sim. Ele estava dormindo. — Eu também vi. Parece que está morrendo — comentou Roxanne, acompanhando-a. Embora há poucos minutos reconhecesse essa verdade, Christina pro¬testou: — Ele tem estado doentíssimo e qualquer pessoa ficaria abatida com uma enfermidade grave. — Então acha que está melhorando? — indagou a outra em t ...

m de desafio. — Não, não acredito nisso. Papai dá a impressão de piorar a cada dia que passa — foi à resposta honesta. Roxanne murmurou qualquer coisa, demonstrando a satisfação senti¬da. Christina não sabia se era pelo falo de sua opinião não ser contraditó¬ria ou pela situação em geral. Afinal, não fazia a mínima ideia dos sentimentos da irmã pelo conde. — Papai não está em condições de receber visitas — murmurou como se falasse sozinha, enquanto observava lorde Windom atravessar a ponte levadiça que, como sempre, encontrava-se baixada. — Não acredito que lorde Windom tenha vindo ver "o senhor", e sim lady Jacobina. Novamente, Christina ouviu os próprios pensamentos expressos por Ro¬xanne e isso a surpreendeu um tanto. — Por que ele faria tal coisa? — indagou irritada. Divertida, Roxanne riu alto. — Que pergunta! Ela é uma sem-vergonha e mulher de outro homem, mas linda! Imagino se já foram para a cama ou se estão esperando "o senhor" morrer primeiro. — Que coisa horrível de se dizer, Roxanne! — Se pensa assim é porque não percebeu os olhares com que ele a ob¬serva. Ora, se "o senhor" morrer, lorde Windom poderá se casar com lady Jacobina e gozar da grande vantagem de juntar esta propriedade à dele. As perspectivas são ótimas: uma esposa linda e rica e vastas terras cujo único herdeiro é um menino doentio. O que mais um homem pode desejar? Desgostosa com a maneira fria de Roxanne descrever as conseqüên¬cias da possível morte do pai, Christina apressou o passo e deixou-a para trás. Atravessou a ponte a tempo de ver um cavalariço pegar as rédeas da montaria de lorde Windom e um criado abrir-lhe a porta principal. Como não quisesse encontrar o homem a quem detestava e que lhe despertava desconfiança, cruzou o pátio em direção a uma entrada lateral do castelo. Na verdade, naquele momento não queria ver ninguém, nem mesmo Megan. Roxanne também não nutria a mínima simpatia por lorde ...

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