Livro: As Bruxas de Kenwood Página 2

... , quando se en¬contrava fora, sentia muita falta dos cavalos, dos cachorros, dos filhos e da mulher. Jacobina, a terceira e atual esposa, parecia encarar com naturalidade o fato de ocupar o último lugar nessa lista, embora Christina já houvesse detectado um laivo de rancor em seus olhos azuis ao ouvir o marido se expressar daquela forma franca. O conde encontrava-se no castelo há cinco dias, porém, nos últimos três, doente, não deixara o leito. Os criados já começavam a comentar discre¬tamente o delicado estado de saúde do senhor do castelo. Pelo que di¬ziam, ele não conseguia reter alimento algum, nem mesmo a pouca água ingerida. — Ele há de se recuperar — comentara Jacobina ao ajeitar as tranças loiras no alto da cabeça. — Hoje vamos servir ao conde um caldo de tuta¬no de boi. Isso lhe fará bem. O estômago de Kenwood rejeitara a sopa, e Christina, nessa manhã, ao olhar o pai da porta do quarto, ficara deprimida com o extremo abati¬mento dele. Ao lado da cama estava Sadie, a criada encarregada de cui¬dar do enfermo, cuja expressão também revelava pessimismo. Jacobina, alegando poder tratar-se de alguma moléstia transmissível, negava-se a ficar muito tempo ao lado do marido. Não desejava correr o risco de levar ao filho pequeno, o herdeiro do conde, a doença es¬tranha. Embora os cabelos do pai já começassem a se tornar grisalhos, Christi¬na não o considerava um homem velho. Todavia, ao observá-lo naquela manhã, conscientizara-se da forte possibilidade da morte dele. Agora, enquanto caminhava depressa, indagava-se sobre seu futuro na eventualidade de o pai vir a falecer. Não nutria a mínima ilusão quanto aos sentimentos da madrasta em relação a ela, Roxanne e Megan. Muitas vezes notara a hostilidade no olhar de Jacobina, velada por palavras amá¬veis pronunciadas na presença do conde. O único interesse de milady restringia-se à própria pessoa e à do filho, Thomas. "Se fosse meu marido que estivesse sofrend ...

", pensou Christina, "se fosse Vilas, eu não arredaria o pé de perto dele." Como sempre, ao lembrar-se do primo afastado, o coração disparou, pois era apaixonada por ele desde os tempos de infância. Quando conta¬va dez anos, e ele quatorze, dissera que, um dia, ambos se casariam. Vilas e as pessoas que estavam perto tinham rido enquanto ele lhe afagara os cabelos. No íntimo, sabia que a afeição do primo, embora profunda, não possuía nuanças românticas. Mesmo assim, a esperança persistia. Seria muito bom se Vilas, nesses dias sombrios, aparecesse para uma de suas visitas costumeiras ao castelo. Gostaria de vê-lo chegar, cavalgan¬do o garanhão preto pelas colinas, a capa vermelha esvoaçando ao vento. Ele era a única pessoa com quem poderia conversar sobre seu futuro no caso de o conde morrer. Tão forte era a sua vontade de encontrá-lo que Christina parou e virou-se para o norte, por onde ele costumava chegar. Por uma fração de segundo, ficou imobilizada ao ver, à distância, um cavaleiro aproximar-se a galope. Entretanto, o desapontamento logo a dominou ao reconhecer a montaria e a silhueta de lorde Windom. Mais uma vez, Christina apertou os lábios. As visitas desse homem que se dizia amigo do conde, além de ser vizinho, estavam se tornando fre¬qüentes demais. Nem mesmo quando o dono do castelo se encontrava au¬sente, ele deixava de aparecer. — Porcaria! A exclamação partirá de Roxanne, que acabava de alcançá-la, e Chris¬tina deu-se conta do erro cometido ao parar a fim de observar o cavaleiro vindo do norte. A meia irmã parecia também não gostar da visita de lorde Windom e talvez essa fosse à primeira ocasião em que concordava com o modo de pensar dela, embora reprovasse a forma grosseira com que se expressara. Naturalmente, isso não era de estranhar, levando-se em con¬sideração o ambiente em que Roxanne fora criada. Todavia, depois de três anos vividos no castelo de Kenwood, esperava-se que ela houvesse ad¬quiri ...

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