Livro: Suave Feitiço Página 3

... sse pouco-caso do risco que seu clã corria. Conhecia o temperamento do herdeiro dos MacKay. Desde os quinze anos lutava com Liam, dois anos mais velho. Sabia que a personalidade forte e apaixonada de Bridget entraria em atrito com o orgulho e o caráter de Liam sempre que ele quisesse controlá-la. Bridget tinha obsessão pelo marido. Não havia outro modo de descrever seus sentimentos. Sete meses antes ele a salvara de um assalto. Daquele dia em diante, ela não descansara até vê-lo de novo. Apenas Micheil sabia das ocasiões em que a irmã cru¬zara, com audácia, os rios Halladale e Helmsdale, na esperança de rever Liam. E, quando finalmente o reen¬controu e afirmou que ele a desonrara, apenas Micheil sabia que era mentira. Bridget era tão virgem quanto a menininha de quem Micheil ficara noivo aquela noite. Seu pai jurara vingança, prometendo arrancar o cora¬ção de Liam, mas Bridget implorara para se casar com ele. Trocando um olhar rancoroso com o cunhado, Micheil ergueu a taça, carrancudo como o pai. Eram todos cul¬pados por permitir que Bridget se tornasse indomável. Sempre que ela queria alguma coisa, ou pensava querer, não sossegava até obtê-la. Era melhor que Liam tomasse cuidado. Ele precisava ser forte para dominar a natureza irre¬quieta de Bridget. E sensível o suficiente para compreen¬der sua enorme necessidade de amor. Uma estranha premonição apossou-se de Micheil. - Vai ficar bêbado se continuar assim - sussurrou-lhe Seana. Era a segunda vez que ela ousava dirigir-lhe a palavra. Sentada a seu lado, muito aprumada, Seana estava ma¬goada porque Micheil nem sequer a fitava, e porque fazia com que enchessem sua taça novamente. A impaciência não a deixava parar quieta no assento. Passara a maior parte da noite olhando para Micheil, concluindo que era o menino mais bonito do mundo. Bem, não mais um menino, pensou com seus botões. Era mais alto que seu único irmão, Liam. Seana ouvira as histórias sobre sua habilidade ...

destemor nas lutas, e sentia-se um pouco amedrontada. Sabia que Micheil não gostava dela. Recusara seu tí¬mido pedido para que a levasse a passear a cavalo na manhã seguinte. O noivo não iria perder tempo com ela. Nem agora nem depois. Não iria cortejá-la. Sua mãe lhe explicara, com paciência, que precisava se casar com Mi¬cheil para garantir a paz. Amor, como aquele que seus pais tinham um pelo outro, não existia. Mesmo assim, Seana sentia que a frieza de Micheil era injusta. Doía-lhe o fato de ele não lhe ter sorrido nenhuma vez. Atrevida, pousou a mão no braço coberto de veludo. - Você ainda não me dirigiu a palavra, Micheil. Não gosto disso. Não acho justo. Ele a brindou com um olhar cruel e arrogante, e con¬tinuou a ignorá-la. Por mais que amasse o pai, por mais que o respeitasse como chefe do clã, seu ressentimento se intensificara com aquele compromisso forçado. Micheil convivia muito de perto com a morte, enquanto Seana desejava viver cada minuto, intensamente. O fato de ter de esperar anos, até que a noiva crescesse, deixava Micheil doente. Gostaria de ter uma desculpa para sair da mesa, mas seu pai ficaria furioso. Tentou distrair-se e olhou para Alura, mãe de Seana. Não era uma mulher de beleza esfuziante, mas havia muita do¬çura em seu rosto quando sorria para a filha. Porém, ao sentir o olhar de Micheil, parou de sorrir. Do outro lado do salão estava Fiona, uma prima dis¬tante, sentada ao lado da irmã Janet. Segundo o que se comentava, Fiona já não era virgem. Ele imaginou os cabelos ruivos da prima entre suas mãos, os lábios en¬treabertos, submissos. Seana percebeu os olhares trocados entre Micheil e Fiona e pressentiu um perigo inexplicável. Novamente pousou a mão no braço de Micheil, apertando-o e exigindo atenção. - Fiona não serve para você. De mais a mais, não divido o que é meu. Micheil riu asperamente. Naquele instante, Bridget e Liam ergueram-se, dando início ao baile. - Dança comigo? ...

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