Livro: A terceira moça Página 2
Autor - Fonte: AGATHA CHRISTIE
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rregalou os olhos, elevando as sobran¬celhas. — Pode ter cometido? Ela não tem certeza?
— Foi o que ela disse, senhor.
— Insuficiente, mas possivelmente interessante — diagnosticou Poirot.
— Pode ser. uma brincadeira, senhor — disse George, sem se comprometer.
— Tudo é possível — concordou Poirot, — mas é difícil acreditar. — ergueu a xícara. — Mande-a entrar daqui a cinco minutos.
— Sim, senhor — e George saiu.
Poirot tomou o último gole do chocolate. Empurrou a xícara para um lado e se levantou. Aproximou-se da lareira, olhou-se no espelho preso à parede; as pontas dos bigodes es¬tavam em alturas diferentes, situação que corrigiu cuidado¬samente, com um ajuste milimétrico. Satisfeito, voltou à ca¬deira e esperou a entrada da visitante, embora não soubesse exatamente o que esperar.
Talvez aguardasse algo que se aproximasse de sua pró¬pria definição da beleza feminina. "Uma bela mulher em pe¬rigo ." A expressão desgastada pelo muito uso veio-lhe ao pensamento. E logo se afastou, à entrada de George com a visitante. Intimamente, Poirot suspirou e balançou a cabe¬ça. Certamente não era uma bela mulher — muito menos apa¬rentemente estar em perigo. Talvez um tanto perplexa, mas decididamente não apavorada.
"Bolas!" — pensou Poirot com desgosto — "Essas moças! Nem ao menos tentam melhorar um pouco! Bem pin¬tada, bem vestida, o cabelo penteado por um profissional competente. ela ainda poderia passar. Mas, assim!"
A visitante era uma moça de uns vinte anos. Os cabe¬los, compridos, despenteados, de uma cor indefinida, escor¬riam-lhe pelos ombros. Os olhos, de um azul esverdeado, eram grandes e não exprimiam coisa alguma. Vestia o que presumivelmente seriam as roupas de sua geração: botas altas de couro preto, meias brancas de lã, não muito limpas, uma mí¬nima saia e um suéter grosso e grande demais para ela.
Em qualquer pessoa da idade de Poirot, a jovem só des-pertaria um impulso: o de f
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zê-la tomar um banho o mais de-pressa possível. Ele já tivera essa reação antes, na rua, em relação a centenas de moças exatamente iguais. Todas pa¬reciam sujas. No entanto — uma contradição em termos — esta também parecia ter sido recentemente retirada das águas de um rio caudaloso. Essas meninas, filosofou Poirot, talvez não sejam realmente sujas: apenas fazem o possível para dar essa impressão.
Levantou-se com sua costumeira polidez, apertou-lhe a mão e puxou uma cadeira.
— Queria me ver, mademoiselle? Sente-se, por favor.
— Oh — disse a moça, um tanto sem fôlego, encarando-o sem piscar.
— Eh bien? — continuou Poirot.
Ela hesitou — Eu prefiro. acho melhor ficar em pé — os grandes olhos continuavam a fitá-lo, carregados de dú¬vidas .
— Como quiser — Poirot voltou.à sua cadeira e olhou-a esperando. A moça arrastou os pés, baixando a vista para logo voltar a encarar Poirot.
— O senhor. o senhor é Hercule Poirot?
— Indubitavelmente. Em que posso servi-la?
— Ah, bem, é meio complicado. Quer dizer.
Poirot sentiu que ela precisava de ajuda. E colaborou: — Meu criado disse-me que a senhora desejava consultar-me porque "pode ter cometido um homicídio". É exato?
A moça concordou — É.
— Mas decerto não é uma questão que permita dúvidas. A senhora deve saber se cometeu ou não um crime.
— Bem, eu não sei explicar. Quer dizer.
— Vamos — disse Poirot com bondade. — Sente-se. Relaxe os músculos. Conte-me tudo.
— Não sei. ah, meu Deus, não sei como. O senhor não vê, é tão difícil. Eu. eu mudei de idéia. Não leve a mal, mas. acho que vou embora.
— Vamos. Coragem.
— Não. Não posso. Pensei que pudesse chegar e. . e lhe perguntar, perguntar o que devo fazer. mas não posso. o senhor não percebe? É tão diferente do que eu pensava.
— Diferente, como?
— Por favor, desculpe, eu não quero ser grosseira, mas.
Ela respirou com força, olhou para Poirot, desviou o ol ...
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Claudia: nuss bom dimaisu
a.
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