Livro: Vênus Divina Vênus
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Autor - Fonte: Machado de Assis
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LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Machado de Assis
Edição de Referência: Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
— VÊNUS! Vênus! divina Vênus!
E despegando os olhos da parede, onde estava uma cópia pequenina da Vênus de
Milo, Ricardo arremeteu contra o papel e arrancou de si dous versos para completar uma
quadra começada às sete horas da manhã. Eram sete e meia; a xícara de café, que a
mãe lhe trouxera antes de sair para a missa, estava intacta e fria sobre a mesa; a cama,
ainda desfeita, era uma pequena cama de ferro, a mesa em que escrevia era de pinho; a
um canto um par de sapatos, o chapéu pendente de um prego. Desarranjo e falta de
meios. O poeta, com os pés metidos em chinelas velhas, com a cabeça apoiada na mão
esquerda, ia escrevendo a poesia. Tinha acabado a quadra e releu-a:
Mimosa flor que dominas
Todas as flores do prado,
Tu tens as formas divinas
De Vênus, modelo amado.
Os dous últimos versos não lhe pareceram tão bons como os dous primeiros, nem lhe
saíram tão fluentemente. Ricardo deu uma pancadinha seca na borda da mesa, e
endireitou o busto. Concertou os bigodes, fitou novamente a Vênus de Milo — uma triste
cópia em gesso — e tratou de ver se os versos lhe saíam melhores.
Tem vinte anos este moço, olhos claros e miúdos, cara sem expressão, nem bonita
nem feia, banal. Cabelo reluzente de óleo, que ele põe todos os dias. Dentes tratados
com esmero. As mãos são delgadinhas, como os pés, e tem as unhas compridas e
encurvadas. Empregado em um dos arsenais, vive com a mãe (já não tem pai), e paga a
casa e parte da comida. A outra parte é paga pela mãe, que, apesar de velha, trabalha
muito. Moram no bairro dos Cajueiros. O ano em que isto se dava era o de 1859. É
domingo. Dizendo que a mãe foi à missa, quase não é preciso acrescentar que com um
surrado vestido preto.
Ricardo prosseguia. O amor às unhas faz co
...
que não as roa, quando se acha em
dificuldades métricas. Em compensação, afaga a ponta do nariz com a ponta dos dedos.
Esforça-se por sacar dali dous versos substitutivos, mas inutilmente. Afinal, tanto repetiu
os dous versos condenados, que acabou por achar a quadra excelente e continuou a
poesia. Saiu a segunda estrofe, depois a terceira, a quarta e a quinta. A última dizia que o
Deus verdadeiro, querendo provar que os falsos não eram tão poderosos como
supunham, inventara, contra a bela Vênus, a formosa Marcela. Gostou desta idéia; era
uma chave de ouro. Ergueu-se e passeou pelo quarto, recitando os versos; em seguida,
parou diante da Vênus de Milo, encantado da comparação. Chegou a dizer-lhe em voz
alta:
— Os braços que te faltam são os braços dela!
Também gostou desta idéia, e tentou convertê-la em uma estrofe, mas a veia esgotarase.
Copiou a poesia — primeiramente, em um caderno de outras; depois, em uma folha
de papel bordado. Acabava a cópia quando a mãe voltava da missa. Mal teve tempo de
guardar tudo na gaveta. A mãe viu que ele não bebera o café, feito por ela, e posto ali
com a recomendação de que o não deixasse esfriar.
"Hão de ser os malditos versos!" pensou ela consigo.
— Sim, mamãe, foram os malditos versos! disse ele.
Maria dos Anjos, espantada:
— Você adivinhou o que eu pensei?
Ricardo podia responder que já lhe ouvira muitas vezes aquelas palavras,
acompanhadas de certo gesto característico; mas preferiu mentir.
— O poeta adivinha. A inspiração não serve só para compor versos, mas também para
ler na alma dos outros.
— Então, você leu também que eu rezei hoje na missa por você. ?
— Li, sim, senhora.
— E que pedi a Nossa Senhora, minha madrinha, que acabe com essa paixão, por
aquela moça. Como se chama mesmo?
Ricardo, depois de alguns instantes, respondeu:
— Marcela.
— Marcela, é verdade. Não disse o nome, mas Nossa Senhora sabe. Eu não digo que
vocês ...
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