Livro: Intimidades Página 3

... o horror que está o mercado de trabalho? Um amigo meu perdeu o emprego há três meses, e continua parado. É desolador, Christy. Bobby costumava me chamar de Christy desde que começou a trabalhar aqui, havia um ano. Eu gostava, pois nunca tinha tido um apelido. No entanto, acho lindo meu nome, Christelle, e parece que todos os demais que me conhecem concordam comigo, pois até mesmo meus pais costumam usá-lo completo. Bobby e eu nos identificamos quase de imediato. Ele era o único que sabia como eu realmente me sentia quanto ao trabalho na Coddled Cook, e como andava desiludida com minha carreira. Ao me formar, desconhecia a realidade da profissão. Pelo jeito, tinha fantasiado sobre escrever poesia, usar malha preta de gola olímpica, fumar, beber e exprimir um ar de misteriosa sensualidade. Nessas fantasias, não levara em consideração a questão de como iria me sustentar. Meu rude despeitar ocorreu logo após a formatura. Vivia na residência de meus pais, no interior do Estado de Illinois, em Champaign, mas dirigi meu olhar para Chicago, a capital. Levei quase um ano para achar emprego na área editorial: uma revista feminina bem ruinzinha, com escritório no centro da metrópole. Ganhava o "principesco" salário de vinte e três mil dólares por ano, sem benefícios, exceto convênio médico. Achei um apartamento em LaGrange, pois não tinha meios para viver em um lugar decente de Chicago, e pegava o trem para chegar ao escritório todas as manhãs. Permaneci nessa editora durante quase dois anos, e depois arrumei colocação numa publicação médica, em Oak Brook. O salário lá era melhor, mas o trabalho, maçante demais. Escrever sobre limitações aos convênios, reembolsos médicos e procedimentos hospitalares sugava quase todas as minhas forças. Assim, a vaga na Coddled Cook pareceu-me muito boa. A remuneração era decente, e a empresa oferecia benefícios interessantes, até reembolso se o funcionário quisesse fazer cursos de aperfeiç ...

amento. Mudei-me para um apartamento em Wrigleyville, que, de acordo com um site de locação de imóveis, distava trinta e sete minutos de meu local de trabalho. Na verdade, mais de uma hora, no mínimo. Sem ser instigante, a atividade era muito melhor do que escrever sobre assuntos hospitalares todos os dias. Em meu cargo, tornei-me responsável pelas matérias de quatro boletins informativos mensais, assim como por outros projetos editoriais. Agora sou redatora sénior, ao passo que Bobby e Rachell são simplesmente redatores. Depois que Bobby e eu concordamos que a capacidade de inocular sêmen, típica do mais recente utensílio de cozinha da Coddled Cook, não deveria ser incluída no boletim seguinte, contei-lhe sobre Kirk e seus e-mails obscenos. Gostava de provocar Bobby com esses assuntos, embora, às vezes, ele falasse mais do que eu gostaria de saber. — Sempre achei que Kirk escondia alguma coisa. Senti que meu radar estava captando algumas vibrações gays dele por mim. — Ah, Bobby, por favor! Tenha dó! Bobby é bonito, mas também muito convencido. Acha que todos os homens o desejam. Talvez esteja certo. Sei que a maioria das funcionárias se apaixonou por Bobby quando ele começou a trabalhar aqui. Meu amigo não tem modos afetados ou efeminados, mas seu excesso de vaidade me incomoda. Quantos rapazes você conhece que depilam as sobrancelhas? — Alguns desses machões sempre negam. Acredite-me. — Está certo, Bobby. Despedimo-nos e desligamos. Tentei retomar meu artigo, mas estava entediada. Consultei meu relógio outra vez: apenas duas e pouco da tarde. Faltavam quase três para o fim do expediente. Tratei de fingir que trabalhava o resto da tarde e liguei para Jane antes de deixar o escritório. Poderia ter usado o celular a caminho de casa, mas não gosto de transgredir a lei falando e dirigindo ao mesmo tempo. Devo ser uma anormalidade, eu sei. Jane aceitou meu convite, e fiquei feliz por ter companhia. Perto das sete horas, q ...

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