Livro: Intimidades Página 2

... — Ah, não! — exclamou, arregalando os olhos. — Não consigo entender como um homem tem vontade de ver uma coisa dessas! Nem mesmo gosto de dizer a palavra. — Baixou a voz: — Vagina. — Uma das atrizes falou justo sobre isso, ou seja: por que o termo que designa uma parte da anatomia feminina causa tanto incómodo? Costumo agir assim com Rachell. Diante dela, sinto-me mais inteligente do que na verdade sou. Ela usava um suéter vermelho, bem folgado, e uma saia preta que cobria os tornozelos. Rachell ainda trajava o figurino do tempo da faculdade, mas isso não importava muito numa empresa como a nossa. A não ser que você fosse gerente e tivesse de se apresentar com trajes mais formais. Adoro calças pretas. Jane diz que tenho de ousar mais com meu guarda-roupa. Não lhe dou ouvidos. A calça preta combina com tudo, esconde a sujeira e fica bem a qualquer hora. Rachell e eu ainda falávamos sobre o tema da peça teatral quando Elaine se aproximou. Ingressamos na empresa quase ao mesmo tempo, mas não tenho uma boa relação com ela. Em parte, creio, porque Elaine só fica feliz quando vê outra pessoa infeliz. Todo o mundo conhece alguém assim em seu trabalho, não importa o ramo. Entre as quase quarenta pessoas dos departamentos de marketing, relações públicas e divulgação, ela é a mexeriqueira-mor. Do tipo nórdico, Elaine tem minha idade, é alta, loira, de olhos azuis e gelados. Também é magra como um caniço, e, sem dúvida alguma, gasta muito tempo e dinheiro com moda e acessórios. Não a vi usar o mesmo traje mais do que duas vezes. — Bom dia, Christelle. Bom dia, Rachell. Nós duas sorrimos, respondemos e esperamos. Elaine nunca pára só para dizer "olá". Sempre tem alguma intenção oculta. — Então, quais são as últimas? Ela dirigiu o olhar para as portas dos escritórios onde se ocultavam os chefes de departamento. Como ainda não eram nove horas, a maioria deles devia estar abrindo suas pastas e ligando seus compu ...

adores, enquanto seguravam grandes copos de café. — Nada de importante. Por quê? — Eu tinha aprendido a lidar com Elaine. — Eu tenho uma novidade. Kirk foi demitido ontem. Encontraram muita pornografia no computador dele. — Sério?! — Rachell arregalou os olhos. À semelhança de outras empresas, a Coddled Cook tinha regras muito rigorosas em relação ao uso da internet. Mas, assim como em quase todas, a maioria dos funcionários as ignorava. — Kirk escrevia obscenidades e mandava por e-mail para mulheres que ele conhecia via on-line. Disseram-me que eram coisas bem pesadas. — Mas ele é casado! — E também é homem, Rachell querida — Elaine ironizou, sem parar de me observar. — Como descobriram? — Meu coração disparou. Eu tinha mandado alguns e-mails não muito castos para Rick, meu namorado, mas nada que pudesse ser qualificado de pornográfico. Lembrei-me de um que enviara depois de uma noite especialmente tórrida, e senti medo. E se alguém tivesse lido? — Kirk estava tendo um caso on-line, creio eu, e decidiu terminar a história. A mulher se zangou e encaminhou para Jim todas as mensagens que ele tinha mandado para ela aqui do trabalho. — Elaine meneou a cabeça. Diretor de recursos humanos, Jim Beckwith era o responsável por contratar e dispensar todos nós. — Pois é, Kirk já era! — concluiu Elaine. Parecia um castigo muito duro, mas era a política da Cook. Decidi amenizar todos os próximos e-mails que enviasse para Rick. Não que o atual conteúdo de nossa correspondência. — Imaginei que se tratasse de uma piada. — De jeito nenhum. Conheço dois casais de mulheres que usaram o inoculador, e agora são felizes mães de um robusto menino e de uma bela menina. — Bobby respirou fundo. — E se eu escrever algo sobre suas vantagens em relação aos similares da concorrência? — Isso talvez ponha um ponto final em sua carreira. — Não brinque. — Bobby passou a falar mais baixo. — Você sabe ...

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