Livro: A noite dos mascarados Página 2

... e um enfeite em sua vida ou, quem sabe, apenas mais alguém que, com seu rosto e corpo perfeitos, pudesse ajudá-lo a chegar mais rápido onde quisesse. Gaby tentou afastar esses pensamentos. A experiência lhe fora útil, afinal. Aprendera muito com ele. Jamais se envol¬veria novamente com homens desse tipo. Não que fosse encontrá-los. Principalmente agora que morava no seu emprego, e seu emprego era numa clínica. Adorava seu traba¬lho e a vida simples e útil que estava levando. Por isso ficara realmente surpresa com o convite para aquele cruzeiro. — Vamos lá, meu bem, não me diga que não aceita, por favor! — falara a velhinha vendo Gaby sem saber o que di¬zer. — Quero que vá e aproveite o passeio, por mim. Sabe que não estou em condições de viajar esse ano. que ao me-nos você se divirta e descanse um pouquinho. Para agradar a velha senhora, a sra. Granger interveio, dispondo-se a liberar Gaby para aquelas férias fora de época. A clínica não tinha muitos pacientes nos meses de verão e uma enfermeira a menos não iria atrapalhar tanto. E as¬sim, inesperadamente, Gaby se viu arrumando as malas pa¬ra ir às ilhas Canárias! Gaby deu um profundo suspiro e voltou a admirar a cabine à sua volta. Havia armários amplos, uma boa mesa, a ge¬ladeira repleta de refrigerantes e petiscos e um quarto grande e bonito. Mal podia acreditar que aquilo estava acontecen¬do com ela. Parecia que o destino resolvera compensá-la. Sim, ela devia aproveitar cada segundo daquela viagem para rela¬xar e deixar, cada vez mais longe, tudo que lembrasse seu passado. O navio começou a se movimentar. Com o rosto radiante de excitação, Gaby dirigiu-se ao convés, para ver o porto se distanciar aos poucos. Era impossível não se emocionar com aquela visão: centenas de pessoas acenando em despedida, os lenços nas mãos, criando um espetáculo comovente. Pa¬ra completar, a banda que se encontrava no cais começou a tocar A Life on the Ocean Wave. Os sons f ...

ram diminuindo e a visão do porto desapare¬cendo. Não se ouvia mais qualquer som da melodia e as pes¬soas já não passavam de pequenas figuras ao longe. Gaby regressou à cabine devagar, sentindo como se estivesse vivendo um sonho. Fora tudo tão rápido: a oferta da sra. Franklin, sua decisão de ir. Não tivera nem tempo de avisar os pais de que iria viajar. Mas afinal, isso não era tão importante, pois só ficaria fora duas semanas. Logo que voltasse, iria visitá-los e, melhor, contando sobre o passeio e as aventuras em alto mar. Respirando fundo resolveu começar a aproveitar cada minuto e decidiu dar uma volta para conhecer o navio. Naque¬le horário talvez fosse melhor, pois a maioria das pessoas ain¬da deveriam estar em suas cabines, arrumando a bagagem. Ela preferia deixar isso para depois de sua "excursão de reconhecimento". Abriu a porta e, como não havia ninguém, saiu. Ao virar para o corredor, porém, deu um encontrão em um homem. Levantou os olhos e observou que era alto, tinha cabelos pre¬tos e trajava um bonito conjunto de agasalho cinza. No entanto, algo nele chamou mais a atenção de Gaby do que a roupa que lhe caía com perfeição. Foi o penetrante par de olhos azuis que a fitou, enquanto trocaram desculpas formais. — Você está na suíte G? — Sim, por quê? — Ela estranhou a pergunta e logo se arrependeu por ter respondido afirmativamente. — É que eu estou ao lado, só isso — ele falou, irônico, quase agressivo. Em seguida, virou-se e seguiu seu caminho. Gaby observou-o afastar-se, pensando que se todos os pas¬sageiros da primeira classe fossem iguais àquele seria melhor ter embarcado na segunda. Caminhou até o convés e logo avistou algumas pessoas con¬tra a amurada, observando o mar. Mais à frente, havia a sa¬la de jogos e a quadra de tênis. No mesmo nível, estava a piscina onde vários passageiros já nadavam ou tomavam sol nas bonitas espreguiçadeiras. No andar de baixo, havia um shopping e Gaby ...

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