Livro: Uma mulher independente Página 2

... , a atraiu? Você é convidada para todos os eventos sociais, e não é apenas por causa do prestígio de seu pai. — Isso sem falar de uma mãe que é a mais ativa casamenteira da cidade — acrescentou Oliver, maliciosamente. Os enormes olhos castanhos de sua irmã, que podiam se tornar doces ou faiscantes, de acordo com seu estado de espírito, tinham muito mais a ver com os convites do que sua esposa pensava. — E então? Nenhum deles a impressionou? — insistiu a cunhada. — Hmmm. \\"Hmmm\\" podia significar tanto sim quanto não, e o último pedaço de recheio e glacê constituiu a desculpa perfeita para que Dee não esclarecesse o assunto. Alan não era estudante, mas a impressão que lhe causara fora tão duradoura quanto dolorosa. Fora a primeira paixão séria de Dee, mas ela aprendera da pior forma possível que não significava a mesma coisa para ele. Ele fora o arquiteto que viera prestar assessoria à restauração da fachada de pedra de uma das faculdades, e, a partir do momento em que pusera os olhos em Dee, passara a persegui-la. Acostumada à companhia e às atenções dos rapazes de sua própria faixa de idade, no início Dee se sentira lisonjeada. Logo, porém, fora parar nas nuvens, com os elogios fáceis e a aparente sofisticação de Alan, contra os quais sua ingenuidade e inexperiência não serviram de defesa. Isso até aquela noite no restaurante chique, quando a esposa de Alan surgira ao mesmo tempo em que o café e o licor. A mulher, furiosa, gritava tanto que fazia vibrar a proeminente barriga do oitavo mês de gravidez, e Dee ainda estremecia à lembrança da constrangedora cena que se seguira. Chocada e confusa, ela se virara para Alan: — Você não me disse. — Nunca lhe prometi casamento, prometi? — contra-atacara ele imediatamente e, olhando para trás, Dee percebera que pelo menos daquela vez ele falava a verdade. As promessas de Alan eram tão pouco substanciais quanto seu estilo de vida, e o casamento não pa ...

sara de uma suposição da parte de Dee, uma suposição extremamente ingénua, como descobrira depois. Seu único consolo era que o restaurante se localizava bem distante da cidade, e lá não se encontrava nenhum conhecido, para testemunhar sua humilhação ou para levar aquele caso sórdido até os ouvidos de sua família. Dee precisara de muito tempo para ser capaz novamente de encarar o mundo. A partir, porém, do momento em que o conseguira, passara a saber exataménte o que queria dele. Os homens não faziam parte de seus planos. Sentia que jamais poderia confiar em outro homem, pelo resto da vida. Decidira ser dona do próprio destino, e limitar suas ambições a ver a maior parte possível do mundo. A ambição era um risco menor que o amor. Não podia ferir. E o mundo estaria sempre lá, não desapareceria em meio a um turbilhão de desculpas mal alinhavadas, como fizera Alan, deixando-a recolher sozinha os cacos do coração. A oportunidade de trabalho oferecida por uma firma local constituíra um ótimo trampolim para sua ambição de viajar. Seu novo patrão se surpreendera com sua firme declaração de que não tinha compromissos afetivos e que não pretendia tê-los. Quando ela acrescentara \\"O que quero é viajar, e não posso carregar um marido na mala\\", ele se impressionara o suficiente para lhe dar o emprego. — Sua apólice de seguro não vai funcionar — predisse Oliver. — Comigo muito bem casado, e livre de responsabilidades com Jane e Felicity, mamãe não vai ter ninguém a não ser você em quem usar seus talentos de casamenteira. Quer apostar que daqui a um ano você está comendo o bolo de seu próprio casamento? — Sem chance. Não aposte, que você perde; sou uma solteirona convicta. Quando mamãe tiver se recuperado da organização disso tudo — Dee apontou com o pratinho vazio para a multidão bem vestida que se aglomerava no salão — estarei a salvo e longe de seu alcance, na Índia. — Pode fugir de sua mãe, ma ...

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