Livro: Mundo encantado Página 2

... hleen, enquanto fechava os olhos para descansar um pouco, depois de tantas horas lendo os manuscritos, pensava no que sentia por ele. Durante toda a vida tentou não desapontá-lo e, no entanto, jamais fora recompensada com um afeto ou ao menos um elogio. Agora ela vivia só, na elegante casa de Cape Cod. A governanta continuava a vir às quartas-feiras pela manhã, e o jardineiro, aos sábados. Não se assustava com as responsabilidades que lhe caberiam dali para frente. Sua maior preocupação no momento era organizar os papéis da biblioteca e talvez arquivá-los. No entanto, não resistindo à curiosidade, resolveu ler o que havia neles e descobrir o que o Sr. Hardesty guardava em segredo. Tesouro. Um tesouro submerso, como nos filmes de ficção de Hollywood. Pelo número de documentos e anotações em sua mesa, o professor Hardesty devia ter passado meses, talvez anos, reunindo informações sobre a localização de um navio mercante inglês que se perdera nas proximidades da costa da Carolina do Norte há dois séculos. A ilha de Ocracoke surgiu-lhe imediatamente na lembrança. Kathleen tentara afastar da mente tudo o que a fazia recordar o verão de quatro anos atrás. A idéia de um tesouro submerso a fascinava, mas as recordações se tornavam inevitáveis. Tinha começado a se preparar para o doutoramento quando seu pai resolvera passar o verão em Ocracoke e convidou-a para que o acompanhasse. Kathleen aceitou o convite, mas levou consigo a máquina de escrever portátil, algumas caixas de livros e muitas folhas de papel. Entretanto, a brancura da areia das praias e o canto das gaivotas quase a fizeram se esquecer de tudo isso. Sentia-se enfeitiçada pela natureza e invadida por uma louca paixão: Ky Silver. Até mesmo o nome, ela pensou, era de mau gosto. Entre os dois havia tanta coisa em comum como há entre um leão e uma perdiz. Tudo isso, no entanto, não evitou que se entregassem um ao outro durante aquele mágico verão. Gostava de vê-lo ...

o leme do barco que seu pai alugara, navegando contra o vento, com os cabelos negros esvoaçando. A lembrança das emoções que sentira quando mergulhavam nas cálidas águas costeiras ainda parecia viva. Envolvida com tantas aventuras, Kathleen nem se deu conta do estranho interesse que o pai demonstrara por barcos e mergulho, coisas para as quais antes nem ligava. Podia lembrar-se das muitas horas em que o Sr. Hardesty ficara enclausurado em seu quarto de hotel, lendo pilhas de livros que levara consigo. Já naquela época devia estar pesquisando muito. Kathleen tinha certeza de que a busca pelo tesouro do navio naufragado continuara nos verões seguintes, quando ela se recusara a acompanhá-lo, por causa de Ky Silver. Ky não lhe oferecia nada além de sonhos absurdos, por isso ela o deixou e não quis retornar nunca mais. Olhando para os documentos do pai, Kate tomou uma decisão. Tinha de voltar a Ocracoke e prosseguir com as buscas que ele havia iniciado. Talvez, entre todos os bens herdados, este fosse o de maior valor. Afinal, o mapa de um tesouro não é algo que possa ser esquecido ou arquivado sem verificação. Tinha de voltar, reafirmou, inquieta. Retornaria ao lugar onde estava Ky Silver. Mas agora a Dra. Kathleen Hardesty conhecia a diferença entre contos de fadas e a realidade. Esticando o braço, tirou de dentro da gaveta da mesa algumas folhas de papel e pôs-se a escrever. Duas coisas faziam a vida de Ky valer a pena: seus passeios de barco em alta velocidade e o descanso na rede da varanda ao entardecer. Gostava de sentir o cheiro da água salgada do mar. Apesar de bastante habituado à vibração do convés sob seus pés, sentia prazer a cada pequeno movimento do barco. Sendo muito sensível, nunca deixava as coisas passarem despercebidas. Tinha crescido numa calma vila situada à beira-mar e, apesar das muitas viagens que fizera, não desejava morar em nenhuma outra parte do mundo. Agradavam-lhe a liberdade proporcionada pela imensidão ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: