Livro: Aposta Indecente Página 2

... ra de eu ir — murmurou, já pro¬curando a capa, o chapéu e as luvas. — Espere! — Treadwell exclamou, levantando-se. — O que me diz de uma última aposta? — Mal respirava, a voz vibrando dentro do peito. Voltou a sentar-se e buscou, outra vez, a garrafa, sem perder a faísca de interesse que brilhou nos olhos de Hugh. Conduzia aquele homem como se fosse um peixe apanhado pela isca. E estava na hora de apresen¬tar o anzol. Hesitou, apertando a beirada da mesa. — Apostarei minha filha na próxima rodada. Hugh engasgou, quase cuspindo o conhaque ao ouvir tais palavras. — Você enlouqueceu? — Talvez sim, talvez não. — Devo declinar de sua oferta. — O conde sentiu um calor subir por seu corpo e cerrou os punhos. Perdendo o costumeiro sangue-frio, dirigiu-se para a porta. — Por favor. — Treadwell chamou-o em tom de súplica. Hugh parou comovido pelo tom amargurado do visconde. — Sei que as pessoas dizem que provoquei minha ruína deliberadamente. Sempre fui um jogador, não posso negar. Depois que perdi meu filho e minha esposa, nada mais me importa. Seis anos se passaram desde que Jamie morreu. Uma sombra cobriu o rosto de Treadwell. Tristeza pela desgraça do filho? Ou remorso por ter levado o jovem à trai¬ção que culminou em sua morte? E por qual razão estaria mencionando a morte do filho naquele momento? A traição à pátria já havia sido esquecida. Ninguém sabia das atividades secretas de Hugh, nem mesmo os amigos mais íntimos. Mas sua identidade era sabida nos círculos da Inteligência da França. Já havia frustrado muitas conspirações para continuar anônimo. Se Treadwell conhecia sua identidade, com certeza, era o ho¬mem que ele procurava. — Estou sem saída, quase fugindo da polícia. Tudo aca¬bou para mim. Não me importo comigo, mas devo pensar em Charlotte. Não sobrará nada depois que os credores le¬varem o que têm direito. Você é um aventureiro, mas sei que é justo e não a deixará desamparad ...

. Não há nada mais que eu possa fazer por ela. — E o que sua filha acha de tal aposta? Charlotte saberia das atividades do pai? Estariam eles planejando espioná-lo para evitar que descobrisse outra conspiração? — Ela me obedecerá. Hugh estranhou a certeza na voz do visconde. — Quero ver com meus próprios olhos. Se a moça fosse parte do plano, poderia tirar algum pro¬veito daquilo. Ou estaria inocente e seria tímida demais para enfrentar o pai? Precisava certificar-se e, se fosse o caso, descartaria de vez a oferta. — Jamais aceitarei uma amante que não compartilhe da minha vontade. Treadwell arregalou os olhos, espantado, mas concordou. — Está bem. Ora, o que o visconde esperava? Hugli pensou. Que se casasse com sua filha? Jamais se ligaria a um traidor. Nem pretendia tomar a moça, mas não precisava revelar seus planos sem necessidade. — Spencer — chamou Treadwell —, vá buscar Charlotte. — Creio que ela já tenha se recolhido há horas, senhor. — Então a acorde. Preciso vê-la de imediato. — Sim, milorde. Enquanto esperavam, o fogo cresceu e subiu pelas pare¬des escurecidas da lareira, dançando ao ritmo do vento, que descia pela chaminé. Hugh escondia a impaciência atrás do rosto calmo. A porta abriu-se e Charlotte caminhou na direção do pai. — Papai, aconteceu alguma coisa? — O timbre da voz revelava uma jovem de mais de vinte anos, embora os ca¬belos escuros na altura dos ombros e os olhos sonolentos conferissem a ela a aparência de uma menina. Ao ver Hugh, retraiu-se. — Desculpe, não sabia que o senhor tinha visita. Spencer me disse que era urgente. — Apertou o robe e ficou ali parada, o rosto vermelho de vergonha. Hugh imaginou que, se a tivesse encontrado em circuns¬tâncias normais, ela não o teria atraído. O rosto apresentava traços fortes demais para o padrão de beleza da época, com o queixo quadrado, nariz aquilino e sobrancelhas finas sobre grandes olhos verdes. Os lábios car ...

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