Livro: A Noiva Guerreira Página 3

... primeira fila da cavalaria e levantou uma mão enluvada para protestar. — William, eu não vim como inimigo, mas sim como. — Não me insulte, Granville! — foi a furiosa réplica que interrompeu as palavras do outro — Sei que classe de sujeito é; digo-te que você e seus herdeiros pagarão esta afronta. Juro-o, pelo sangue de Cristo! Elevou a mão que tinha ao flanco, descobrindo o opaco cano prateado de uma pistola de pederneira. Os corvos giravam, chiando, sobre os aguilhões enquanto o horrendo estrépito da explosão ia desvanecendo-se no silêncio estupefato que o seguiu. William Decatur, conde de Rothbury, estava estendido ao pé da escada de sua casa; o sangue saía de sua cabeça formando um atoleiro espesso e escuro. Seus olhos, que já sem vida, estavam fixos no alto, nos corvos que sobrevoavam em círculos, nas nuvens que encapotavam o céu, na primeira piscada débil da estrela vespertina. Adiantou-se um soldado que levava uma tocha de breu. Uma rajada de vento fez oscilar a chama azul e alaranjada. O soldado passou sobre o homem cansado e arrojou a tocha pela porta aberta. George Granville permaneceu imóvel sobre seu cavalo. Ele tinha ido fiscalizar como se executava a justiça do Rei. Tinha ido suavizar essa justiça, a colaborar com seu antigo amigo para evitar o pior. Mas, agora, suas intenções se esfumaram no vento. O conde de Rothbury estava morto em frente a sua casa em chamas, e seu herdeiro, um menino de oito primaveras, tinha sido jogado no mundo fora da lei dos homens, com uma carga de vingança que pesava sobre seus ombros de menino. George Granville sabia que, ao crescer, o moço seguiria levando essa carga consigo. Rufus Decatur era o digno filho de seu pai. Capítulo 1 Edimburgo, Escócia, dezembro de 1643 Na habitação sem janelas flutuava uma fumaça acre proveniente do fogo de turfa que ardia, sem muito entusiasmo, no lar. A velha bruxa que revolvia um caldeirão tossia, de vez em quando, e ...

esse som bronco era o único que se ouvia. Fora, havia uma grossa capa de neve que cobria um mundo branco e morto e pesados flocos caíam flutuando de um céu cinza como de aço. Um montão de trapos amontoados sob uma manta furadas pelas traças se queixou e se moveu produzindo um ranger de palhas sob seu corpo ossudo. — Conhaque, mulher! A velha olhou por cima do ombro a esse vulto que jazia em uma cama, e cuspiu no fogo. O cuspe vaiou sobre a turfa. — A garota foi procurar. Só o Senhor sabe com o que o pagará. O vulto voltou a queixar-se. Um braço debilitado empurrou a manta, sem forças, e Jack Worth se levantou com esforço, apoiando-se sobre um cotovelo. Com os olhos entrecerrados, seu olhar percorreu a habitação cheia de fumaça. Não tinha melhorado nada da última vez que a olhou e, voltou a deitar-se sobre a palha. Sentia o chão de terra duro e frio sob a magra capa de palha fedorenta; a pressão sobre seu corpo estragado era dolorosa. Jack queria morrer, mas a faísca da vida era persistente. E, se não podia morrer, queria conhaque. Portia tinha ido procurar conhaque. O cérebro debilitado do homem era capaz de reter essa idéia. Em nome de Lúcifer, onde se teria metido ela? Não pôde recordar a que hora tinha saído, apesar da tormenta. A tempestade de neve impedia de detectar os sinais que indicavam o passar do tempo; tanto podia ser meia noite como o amanhecer. Sentia como um fogo nos membros arrasados pela dor, ardia-lhe os olhos em suas órbitas, doía-lhe cada centímetro do corpo e essas mortíferas ânsias o consumiam que gritou, mas o fez com tão pouca força que a velha que estava ante o fogo nem sequer se voltou. A porta se abriu. Um ar gelado removeu o ambiente viciado e a fumaça se elevou formando figuras que pareciam disformes. A moça que fechou a porta com uma patada era magra como um arame; entretanto, emanava dela uma energia nervosa que, de certo modo, punha vida na imundície pestilenta desse chi ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: