Livro: Mary Página 2

... as para proteger-se com Beth. Conhecia aquelas terras. Cavalgara por suas planícies e montanhas lutando contra os apaches, como oficial do Exército. Sabia dos tesouros e também dos perigos que ela oferecia, por isso jamais quisera arriscar a vida da filha levando-a para lá. Atirou com o revólver, procurando abrir caminho até a saída do cânion. O barulho era insuportável. Cada sol¬dado que restava em pé lutava corpo a corpo com um apache. Rafe estava entre uma pedra e os contendores. Não era a primeira vez que se via naquela situação e o tempo se escoava depressa. Tinha de escapar, senão seria morto e sua filha capturada. — Beth, vamos brincar de esconde-esconde — Rafe procurava falar com calma. — Faça o que eu mandar e juro que vai ficar tudo bem. Rápido, soltou os pés dos estribos, passou um braço pela cintura da Beth, pegou a Winchester, deslizou da sela para o chão e apertou o corpinho trémulo ao seu. — Segure as rédeas do Rebelde. Segure bem firme, Beth. - Uma bala que passou silvando e foi cravar-se no chão perto dele o fez sair correndo, meio abaixado. Murmurava palavras de encorajamento para a filha, sem saber se ela as escutava por causa do barulho aterrorizante da luta, e alcançou a rocha maior, escondendo-se atrás dela. — Feche os olhos, meu bem — pediu à menina. Sua mão estava molhada pelas lágrimas dela. Não que¬ria que Beth visse soldados e índios morrendo no solo empoeirado. Ele também não queria ver. — Minha pequena valente! — afagou-a. — Fique com os olhos fechados. Daqui a pouco iremos embora. O sexto-sentido o fez olhar por cima do ombro e, com um movimento relâmpago, Rafe atirou num apache que ia esfaqueá-lo. Agarrou a filha embaixo de um braço e correu de novo. — Muffy! Papai, vá pegá-la! Não podemos deixar Muffy! - Beth chorava, esperneando, desesperada por sua bo¬neca, enquanto o pai se deslocava o mais abaixado que podia. Pouco adiante erguiam-se arbustos e rochas es¬parsas. ...

Ouviu tiros atrás de si e correu ainda mais. Con¬seguiu abrigar-se atrás das pedras, com as balas zunindo e ricocheteando ao redor. E Beth chorava por causa da boneca. Rafe hesitou. A boneca de pano era o único brinquedo que a pequena trouxera, a única coisa que a acalmava quando tinha pesadelos. Ofegante, ficou imóvel, recuperando as forças. Atrás das pedras, não via o que se passava. Com movimentos ágeis, pegou cartuchos do cinturão e recarregou o 44 e o rifle. O suor fazia riscos claros na poeira que lhe cobria o rosto. Ainda respirava com dificuldade. Os tiros haviam cessado, mas aquele era o modo dos apaches lutar, reti-ravam-se e depois de alguns momentos atacavam de novo. Com o rifle em posição de atirar, Rafe deslizou entre o mato e as rochas, até ver a cena da batalha. Não havia nada que pudesse protegê-lo dali até o apache morto junto ao qual estava a boneca. Teria que dar uma rápida corrida. Uma bala ricocheteou na rocha ao lado dele e Rafe recuou, com estilhaços de granito atingindo-lhe o rosto. O choro ininterrupto de Beth mostrou-lhe que não ti¬nha escolha. Girou sobre os calcanhares, ergueu a menina com um braço e foi colocá-la numa espécie de caverna sombreada, formada por duas pedras imensas. Rebelde achava-se ao seu lado, as orelhas em pé e as narinas frementes por causa do cheiro da morte. Rafe pegou o cantil que pendia da sela do cavalo e deu-o à filha. — Guarde isso, querida. É água. Só tome um gole de cada vez, quando estiver com muita sede. Aconteça o que acontecer, não saia daqui, Beth, e fique de cabeça abaixada. Os grandes olhos da menina fitavam-no, temerosos. Depois apertou o cantil ao peito, agachou-se e abaixou bem a cabeça. — Isso mesmo, filha! Quando vissem que o grupo não chegava ao acampa¬mento em Ojo Caliente, os soldados sairiam à procura. Esse acampamento militar era um posto avançado do Forte Craig, construído dois anos antes que a Guerra de Secessão interrompesse o control ...

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