Livro: Além da inocência Página 3

... er desejam falar comigo. E se tiver em conta que, além disso, sou o irmão mais novo… — Idiotas — sentenciou Edward, fazendo-se eco do sorriso do Freddie —. Deveriam saber que eu jamais permitiria que passasse privações. Freddie deixou escapar um suspiro com expressão pensativa. Edward tinha tentado impedir que a dependência econômica de seu irmão se convertesse em um problema. Além de uma pequena propriedade que sua mãe tinha deixado para seu filho mais nova, o controle das propriedades dos Burbrooke estava integralmente em mãos do Edward. Este se tinha assegurado que Freddie jamais tivesse que pedir dinheiro a outros e este, embora não era nenhum miserável, cuidava-se de viver dentro dos limites das rendas que recebia. Entretanto, a causa do suspiro do Freddie não eram as limitações da condição de primogênito de seu irmão. — Escolher a uma mulher que seja o bastante boa para ser sua cunhada não será fácil — disse. Edward riu e lhe deu uma palmada no ombro, embora em seu foro interno, onde se alimentava seu amor pelo Freddie, sabia que o perigo não havia passado. Capítulo 1 Com semblante grave e mãos trementes, a senhorita Florence Fairleigh desceu do amontoado vagão para descobrir uma cena digna do hospital psiquiátrico do Bedlam. Uma multidão agitada de homens: operários, empregados e, aqui e lá, algum cavalheiro com cartola, empurravam-se uns aos outros a toda pressa para chegar ao trem do que ela acabava de baixar. por cima de sua cabeça, o teto da estação do Euston se elevava com as duas vertentes de um telhado de celeiro, e seus vidros manchados de fuligem filtravam a luz do sol e lhe davam uma textura aquosa mais própria do entardecer que do meio-dia. Sob seus pés…, e bem, sob seus pés o chão não parecia ainda do todo sólido. Franzindo o cenho, alisou-se o vestido negro enrugado de alepín. Nenhuma daquelas observações tinha que ver com seu objetivo. Seu objetivo era seu futuro e a seu futuro ...

não o deteriam os medos próprios de uma señoritinga. voltou-se para olhar a sua companheira. Lizzie, a criada factotum dos Fairleigh, seguia obstinada à porta do vagão, cuja sujeira ameaçava danificando as melhores luvas brancas de sua proprietária. Um velho vestido rosado do Florence, outra dos objetos que lhe tinha emprestado, pendurava da frágil ossatura do Lizzie. A seus dezesseis anos, e já quase enchente de tudo, a criada não representava mais de doze. Em realidade, pensou Florence, a única vantagem de viajar com uma pessoa mais tímida que uma mesma era que servia para fazê-la mais forte. Agora se fez forte e com um gesto ordenou ao Lizzie que baixasse. — Não passa nada, é seguro — disse com toda a firmeza da que pôde fazer provisão. Com uma expressão de inquietação não dissimulada, Lizzie desceu, com passo inseguro, como se o trem fora um dragão que se proposto, embora sem acabar de decidir-se, expulsá-la momentaneamente de suas vísceras. — Ai, senhorita — disse, com um suspiro de assombro —, que impressionante é Londres. — Tem que me chamar senhorita Fairleigh — corrigiu Florence, agarrando ao Lizzie pelo braço para guiá-la no meio do agitação da estação —. Como corresponde a uma jovem com sua senhora. Essa era a história que ambas tinham acordado, posto que Florence não podia viajar sem uma acompanhante, e era muito difícil imaginar uma acompanhante menos imponente que Lizzie Thomas. Com seu vestido escuro e deslavado, Florence pensava que seu próprio aspecto se parecia muito ao de uma instrutora, embora pelo largo das mangas e o grosso do busto não parecia muito na moda. Na penumbra do vagão, tudo tinha transcorrido sem problemas. Entretanto, quando tinham desembarcado nas sucessivas estações para aprovisionar-se de água entre o Lancashire e Londres, Florence tinha sido objeto de olhares curiosos. Ao parecer, nem sequer uma instrutora passava desapercebida aos olhares masculinos. — Ai, senh ...

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