Livro: Além da inocência Página 2

... n porque, pensava, de outra maneira este não poderia assumir o lugar que lhe correspondia na sociedade. Sentiu uma mão quente que se posava em seu pescoço. Freddie se tinha aproximado de sua mesa. — Vamos, irmão — disse, lhe pressionando brandamente a nuca —. Não é tua culpa. Você nem sequer estava. Edward deixou escapar um suspiro e elevou o olhar. Sua expressão se endureceu. — Quem lhes tem descoberto? Freddie fez uma careta. Com o dedo desenhou um círculo na superfície escura e lustrosa da mesa. — Eis aí o problema, temo-me. Foi o fazendeiro local, convidaram-no à festa porque Farringdon está endividado com ele até o pescoço. — Como se chama? — insistiu Edward, decidido a ficar à tarefa de limpar aquele assunto. — Samuel Stokes. — O magnata da destilaria?— Freddie respondeu com uma careta. — Exatamente. depois de ter obtido o título do Sir, feito-se um lugar na vizinhança a golpe de subornos. Segundo Farringdon, o tipo é um pouco careta. — Mas isso piora ainda mais as coisas! Se tivesse sido um dos nossos o que te descobriu, poria-se a correr o rumor de “disse-me-disse”, mas não ameaçariam te denunciando. Tem idéia do que poderia acontecer se levassem isto aos tribunais? Seria sua perdição! Freddie se esclareceu garganta. — A verdade é que Stokes me ameaçou me denunciando diante o magistrado. Disse que era um mau exemplo para os estamentos inferiores. — Meu Deus. — Mas se retratou quando soube quem era meu irmão — seguiu Freddie, arqueando as sobrancelhas —. Ao parecer, é um homem respeitado no grêmio industrial, apesar de não ser mais que um senhor elegante e inútil. — Estupendo — grunhiu Edward. Jogou a cadeira para trás para incorporar-se e fechou os olhos. Sentia pulsar as têmporas sob o peso das expectativas do Freddie. — Talvez se deixaria subornar— sugeriu Freddie —. Poderia patrociná-lo para que ingresse em seu clube. — Reunirei-me com ele— anunciou Edw ...

rd— cravando ao Freddie com seu olhar mais severo —, e se cumprir as condições, considerarei a possibilidade de propor seu nome no White\'S. — Mas, Edward… Edward o fez calar lhe pondo a mão em seu largo ombro de jovenzinho. Freddie tinha sido campeão de remo na escola, capitão da equipe, admirado por todos os que lhe conheciam. Ainda o admiravam. Edward sabia que daria seu braço direito para que isso não trocasse. Seu irmão jamais se converteria no bobo dos seus. — Freddie — disse —, darei ao Stokes minha palavra de honra de que isto não voltará a acontecer, e confio em ti para que a promessa se cumpra. Freddie não desviou o olhar e, em realidade, tampouco articulou palavra. Entretanto, tinha os lábios tão apertados que estes adotaram um tintura esbranquiçado. — Pode consegui-lo — seguiu Edward, deixando que o afeto que sentia por seu irmão suavizasse suas palavras —. Só tem que lhe propor isso Recorda quando foi o primeiro da classe em matemática? E quando aprendeu a nadar? Freddie sufocou uma gargalhada. — Aprendi a nadar por uma questão de puro terror. — Então volta a sentir o puro terror — disse Edward, suavizando ainda mais sua voz —. As pessoas não estão acostumadas a ignorar este tipo de assunto, e menos ainda se não parar de esfregá-lo em suas caras. Os olhos luminosos e azuis do Freddie se umedeceram com lágrimas não derramadas. Inclinou a cabeça. — Não tinha a intenção de esfregar-lhe a ninguém pela cara, especialmente a ti. Edward o atraiu para ele e o abraçou. — Já sei. Mas chegou o momento de deixar estes jogos como coisa do passado — advertiu, e agarrou ao Freddie pelos ombros —. Por que não te conforma com uma dessas jovenzinhas que debutam em sociedade e ficam suspirando quando lhe vêem passar? — Não sei quem quererá relacionar-se comigo quando isto se saiba — disse Freddie, com uma ameaça de sorriso torcido —. As mulheres que procuram marido já nem sequ ...

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