Livro: Armadilha do coração Página 2

... algo indefinível. Uma aura de estrela de cinema. Algo que mexia com ele. Não era de admirar que o velho Elroy Pickford, presidente da Pickford Inc., um dos homens mais ricos do Canadá, tivesse desistido do celibato, aos sessenta e sete anos, para se casar com aquela mulher. Era revoltante. Mesmo ali, naquele lugar remoto, as pessoas tinham ficado chocadas com o casamento. Delphine não falara de outra coisa durante semanas. Quando isso tinha acontecido? Cinco, seis anos atrás? A noiva tinha apenas vinte e um anos na época. Charles fitou-lhe o rosto, aquela pálida pele de porcelana, perfeita, sem nenhum indício de rugas, que só as mulheres muito ricas podem ter. Caroline não parecia ter vinte e sete anos. Talvez o casamento tivesse sido ainda mais escandaloso do que as pessoas imaginavam, ele pensou cinicamente. Contemplou-a novamente, dessa vez procurando por sinais de pesar pela morte do marido. Nada. Nenhuma marca de lágrimas. Somente um pequeno sinal indicava tensão naquela mulher arrogante. Era a forma como as mãos seguravam a pequena uma, mantida apertada contra a curva dos seios sensuais, que as dobras do melancólico babado preto não conseguiam esconder. As cinzas de Elroy encontravam-se naquela uma. Caroline acabara de se tomar uma das mulheres mais ricas do país. Ela tocou-lhe o ombro. Charles ficou tenso. Tudo naquela moça era distante e frio. Então, por que aquele leve toque parecia feito de fogo? Bem, Caroline era bonita, sensual, e seu perfume, delicioso. Mas. e daí? Charles tinha experiência suficiente para não se deixar envolver por alguém como ela. Caroline apontou para baixo. Charles entendeu na hora que ela queria espalhar as cinzas de Elroy às margens do lago que se avistava lá embaixo, e que, dali do alto, mais parecia uma poça d\'água. Existiam outros lugares, muito mais bonitos, naquela região, mas sem dúvida a moça não se daria ao trabalho de procurá-los. Apenas cumpria uma obrigação, antes de começar a ga ...

tar o dinheiro que herdara. Charles aterrissou em uma pequena clareira. A viúva Pickford virou-se, dando a entender que o motor deveria ser desligado. Ele olhou para fora, para a região desolada, com uma sucessão infinita de pântanos e florestas de pinheiros mirrados, entre montanhas cobertas de neve. Por que teria sido aquele o local escolhido? Afinal, Elroy era um homem da cidade, de grandes negócios, de ternos elegantes. — Por que aqui? — perguntou, curioso. — Porque meu marido caçou nessa região algum tempo atrás, e se sentiu bem aqui. Dizia que este lugar fazia com que se sentisse realmente livre. Charles estremeceu ao ouvir aquela voz maravilhosa. Rouca e sensual, era tão estonteante como o aroma do perfume. "Nenhum homem estará seguro ao lado dessa mulher", pensou ele. "É extremamente sedutora e perigosa." Não para Charles, evidentemente, pois ele não costumava cair nas armadilhas femininas. Sabia muito bem como esses truques podiam ferir o coração e o orgulho masculinos. Cord, seu irmão gêmeo, casara-se com Delphine, cego pela beleza dela, e não fora capaz de perceber quão superficial e gananciosa era a moça. O resultado fora a destruição do casamento e uma dor profunda. Charles jamais conseguiria perdoar Delphine pelo que tinha feito ao irmão. — Ande depressa, sim? Um temporal se aproxima e temos que sair logo daqui — disse ele bruscamente. — Se quisesse um tratamento de princesa, moça, deveria ter alugado um helicóptero de luxo. Com uma expressão de desprezo, Caroline levantou uma das escuras e bem-desenhadas sobrancelhas. "Antipática", pensou Charles, pegando uma velha revista sobre aviação e começando a ler. Mas, pelo canto do olho, não pôde deixar de perceber o vestido subindo um pouco pelas pernas, expondo a bela curva das coxas, enquanto Caroline saía do helicóptero. Deliberadamente, levantou a revista, colocou os óculos de aviador na testa e virou uma página. Caroline percebeu que Charles a d ...

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