Livro: Boneca de Luxo Página 3

... isplicente dele - os pés em cima da mesa, as mangas da camisa arregaçadas, o nó da gravata solto - não combinava muito bem com a posição de presidente de uma companhia holandesa. Enfim, o homem levantou a cabeça e fez sinal com o dedo para uma cadeira ao lado da mesa. Lee ficou surpresa ao avistar os olhos dele. Ao contrário do que podia esperar de um homem que tinha os cabelos pretos, os olhos eram cinzentos e se pareciam com a ponta brilhante de um punhal visto num quarto sombrio. Lee sentou-se na beira da cadeira com uma certa hesitação e retirou o chapéu de palhinha da cabeça, porque estava começando a sentir calor na sala fechada. O homem que estava à sua frente não correspondia à imagem que fazia de Vincent Van Breedan. Imaginava um coroa de quarenta e poucos anos, de cabelos grisalhos e aparência cuidada. O homem que estava ali, com os pés em cima da mesa, tinha no máximo trinta e cinco anos. Parecia muito à vontade na sua presença, embora não tivesse a fisionomia comunicativa e cordial que supunha encontrar no presidente de uma companhia holandesa. Ele riu de repente ao ouvir alguma coisa engraçada no telefone. O som da gargalhada deixou Lee toda arrepiada. Não era o riso franco da alegria descontraída. Era uma risada irônica, sarcástica e que alterou a fisionomia dele momentaneamente, emprestando-lhe um ar de malícia que não tinha anteriormente. - O que você quer com Adrian Hartog? - perguntou o homem de repente, acordando-a do- seu devaneio. Enquanto ela estava observando seus menores gestos, ele terminara de falar ao telefone e estava agora reclinado na poltrona, com os pés no chão. - Eu preciso encontrá-lo urgentemente - disse Lee, voltando a si da surpresa inicial. - Para quê? - indagou o homem impassivelmente. - Bem. eu. ele não falou nada com você a meu respeito? - Não. Por quê? Devia ter falado? - Bem, como responsável por ele, eu pensei que. - Como o quê? - interrompeu o homem, espantado. - Como r ...

sponsável por ele durante a ausência do pai. Não foi por isso que você o convidou para trabalhar na companhia? Ele me falou a respeito da amizade que há entre você e o pai dele. - Ah, sim? - O comentário era tão frio que Lee ficou momentaneamente desorientada. O homem estava reclinado na poltrona e a fumaça do cigarro descrevia círculos azuis em volta da sua cabeça morena. - Onde você conheceu Adrian? - Em Amsterdã, no verão passado. - Você foi lá de férias? - A trabalho. Eu fazia parte de um conjunto de músicos. Eu sou cantora. - Não me diga! - exclamou o homem, surpreso. - Você canta sozinha? - Sozinha, não! - respondeu Lee com um sorriso. - Eu canto acompanhada de violão e de outros instrumentos. Às vezes eu canto acompanhada de piano. Estudei música na escola e fiz um curso no Conservatório de Amsterdã. - Você canta em que língua? Inglês, holandês. ou nas duas línguas? - Eu procuro cantar sempre na língua em que as músicas foram escritas. Canto canções inglesas, espanholas, portuguesas e algumas canções brasileiras. Willi Marteen, o chefe do nosso grupo, e sua mulher Grete cantam em holandês e escandinavo. Eu os conheci em Amsterdã, quando estava residindo lá, juntamente com outros músicos do conjunto. Eles me convidaram para cantar no festival que houve lá no ano passado. - Vocês tiveram sucesso? - Acho que sim. Pelo menos fomos contratados para nos apresentar durante seis meses numa boate da cidade. O contrato terminou em dezembro. - E não foi renovado? - Foi, mas eu não pude continuar no grupo porque queria vir e encontrar-me com Adrian. - Você conheceu Adrian nessa boate? - É. Ele costumava passar lá todas as noites. Ele tinha terminado a universidade e estava procurando emprego. Depois do show, sentava-se à nossa mesa e batia papo até de madrugada. - Eu não sabia que Adrian era interessado em música. Foi então que vocês começaram a namorar? - Foi. Foi então que começamos a namorar - r ...

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