Livro: Chuva de brilhantes Página 2

... ia. Lady Cornwall tirou o magnífico chapéu de pele de raposa e, com a ajuda de Susie, despiu o casaco, revelando uma bonita e elegante figura de mulher vestida em tons de cinza, com botas da mesma cor. Sentou-se no sofá atrás de um biombo de laca preto e ouro que formava uma tela de fundo para a vitrine. O resto da loja era aberto ao público. Mas era ali, naquele reservado, que as clientes especiais podiam examinar mais de perto os vestidos de cetim, veludo, tafetá e organza, cuja assinatura de Franca da Rímini fazia com que as mulheres que os usavam se sentissem uma elite privilegiada. Sempre havia, em média, uns cinquenta modelos na loja. Mas os muito especiais não iam para a vitrine imediatamente. Eram mantidos guardados, quase como segredos de estado, para serem mostrados primeiro para as freguesas vips. Uma delas era uma princesa; a segunda, uma estrela do cinema italiano; e a terceira era a condessa. Durante a viagem de Francesca à Itália, lady Cornwall viera à loja; à procura de um traje de noite para usar no primeiro acontecimento social importante da estação: o Baile das Rosas, em Grosvenor House. Como sabia que a princesa estava grávida e a atriz italiana filmava nos Estados Unidos, Susie confidenciou à condessa que um novo modelo chegaria da confecção naquele dia. Agora, ela mal podia conter a impaciência para ver tal maravilha. Para Francesca, o vestido também seria uma novidade. Apesar de tê-lo desenhado, ainda não o vira pronto. Ao chegar da Itália, na véspera, ele não estava pronto. Foi entregue na hora do almoço, mas Franca não pôde vê-lo, pois tinha coisa muito mais séria com que se preocupar. Durante o almoço, Francesca havia sido pedida em casamento e recusara. Temia que sua resposta tivesse posto fim a uma boa amizade, da qual sabia que ia sentir muita falta. Susie trouxe o vestido, girando-o diante do corpo. Era azul-escuro. Ou verde? A cor mudava a cada movimento, um efeito belíssimo e surpreendente, cons ...

guido com a superposição de várias camadas de tule entre duas saias de gaze e seda selvagem. Lantejoulas prateadas, pedras verdes e canutilhos espelhados salpicados no tule ajudavam a criar a ilusão. Aquele era de longe o modelo mais ambicioso e caro de Francesca e provocou a reação que esperava: a condessa estava literalmente em choque. — É maravilhoso, Franca. Simplesmente de tirar o fôlego. Desta vez, você se superou. — Fico contente que tenha gostado. — Gostado? Adorei, estou louca por ele. Mal posso esperar para usar. — Receio que seja um pouco mais caro do que os outros. Todo esse bordado complicado. — Não quero nem saber quanto custa — disse a condessa, com a despreocupação de quem se casara com um dos poucos nobres realmente ricos. — Posso provar? É do meu manequim? A moça fez que sim e a outra desapareceu na cabine de provas, acompanhada por Susie. Francesca foi até a janela. Sentia-se tão desanimada que nem sua amada Londres na primavera conseguia melhorar seu humor. Da loja, avistava o Museu Vitória e Alberto. Também por perto ficavam a Harrods, o Hyde Park e os jardíns de Kensington, onde costumava sentar na grama, em seus poucos momentos de folga, observando os patos e as pessoas despreocupadas que passeavam de barco. No entanto, nada disso a atraía agora. Os ingleses tinham um ditado: Quando alguém se cansa de Londres, é porque está cansado de viver, pois Londres tem tudo o que o dinheiro pode comprar. Nem tudo, pensou, com um profundo suspiro. — O que mais me fascina e intriga é onde você vai buscar suas ideias. Esse vestido é diferente de tudo o que já fez. De tudo o que já vi — disse a condessa, interrompendo seus devaneios. Parou diante do espelho, virando-se de um lado para outro, para ver todos os reflexos. — Tive a ideia desse vestido quando estava num barco, numa noite estrelada, e um cardume de peixes voadores prateados surgiu de repente. — Que beleza! Quando foi isso? Num cruzei ...

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