Livro: Chuva de brilhantes

... Franca da Rímini era um nome conhecido por todas as mulheres elegantes da Europa. Estrelas de cinema e princesas disputavam os vestidos que ela assinava. Os homens a corte¬javam. Tão linda, tão jovem, tão famosa! Mas ninguém sabia que ela um dia tinha sido apenas Francesca, uma garota selvagem que crescera na miséria, conhecendo o lado mais sórdido da vida. Nem que sufocava no cora¬ção o amor impossível por um homem que a considerava apenas uma irmãzinha: lorde Lanyon, que salvou sua vida nas selvas da América do Sul, Mas, de que adiantava estar vivendo triunfante. longe dele? Chuva de brilhantes Anne Weale “Rain of diamonds” Capítulo I Francesca estava na prancheta de desenho, mas a inspiração não vinha. Girava preguiçosamente o lápis entre os dedos longos, olhando distraída para os anéis de prata e as espirais indianas de ouro, quando o telefone tocou. Alcançou o fone. — Alô? — A condessa está chegando — avisou sua assistente. A condessa tinha sido uma das primeiras freguesas importantes de Francesca. Hoje, a loja na pequena rua de Beauchamp era frequentada por muitas das mais elegantes mulheres, não só de Londres, mas de toda a Europa, que vinham à procura de roupas e acessórios exclusivos. — Vou descer imediatamente. Obrigada, Susie. Deixou a prancheta e olhou rapidamente pela janela. Um Rolls Royce estava parado diante da porta principal e uma mulher envolta em peles descia dele. O motorista, que em outros tempos teria saído para abrir a porta para a patroa, continuava atrás do volante. Já ia longe o tempo em que todo o trânsito parava para que uma condessa desembarcasse de sua carruagem. Naqueles dias distantes, as casinhas de Beauchamp, com suas varandas estreitas e degraus de pedra na entrada, eram residências e não butiques. Na Londres de agora, mesmo uma dama da nobreza era alvo das buzinadas impacientes. Uma fila de táxis, caminhões de entrega e carros particulares começava a se ...

formar atrás do Rolls Royce. Aquela era uma rua muito usada pelos motoristas, para fugir dos constantes congestionamentos de Knightsbridge. Quando a condessa entrou, Francesca estava no almoxarifado do segundo andar, onde criava os maravilhosos e exclusivos modelos de noite que, em três anos, tornaram o nome Franca da Rímini quase tão conhecido como os dos maiores estilistas europeus, aparecendo com frequência em revistas especializadas até mesmo dos Estados Unidos. Mas Francesca sabia que o amparo financeiro, tanto quanto seu talento, a ajudara na dura e árdua caminhada para o sucesso. Sem esse apoio, ela precisaria de dez anos ou mais, até poder se estabelecer em qualquer lugar de Londres que despertasse a atenção daquela clientela da qual seu sucesso dependia. Antes de descer, olhou-se no imenso espelho perto da porta. Havia dias, e aquele era um deles, em que se via como uma estranha e quase não podia acreditar que ainda fosse a mesma Francesca Hartley. O que houve comigo?, pensou, examinando a imagem daquela mulher elegante e sofisticada. O que aconteceu com aquela garota simples que eu era? Sacudiu a cabeça. Com certeza, todo mundo passava por uma experiência parecida. Não devia ser a única que escondia no íntimo uma personalidade inteiramente diferente da aparência que os outros viam. Talvez fosse próprio da natureza humana sofrer aquele tipo de transformação. Talvez ele também tivesse mudado. Uma das coisas que a vida lhe ensinara era a ter autodisciplina. Assim, afastou aqueles pensamentos e desceu. Ao entrar na loja, a condessa conversava com sua assistente. — Boa tarde, lady Cornwall. — Alô, Franca. Como vai, querida? Mal posso esperar para ver esse vestido novo de que Susie me falou, quando você estava na Itália. A condessa voltara recentemente de umas férias em Fiji. Sua pele estava tão queimada como a de Francesca tinha sido, muito tempo atrás. — Espero que goste — disse a moça, certa de que a outra adorar ...

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