Livro: Bonita e perigosa Página 3

... iga¬ções para com a irmã e o irmão e toda sua luta a fim de se estabelecer em Noisy Swallow. Na verdade, alguns mo-mentos mais entre os braços de Ty Saunders a teriam levado a abandonar tudo e a fugir com o minerador que alegava ir aonde o vento o carregasse. Infelizmente para ela, o vento não o tinha carregado para longe desde aquela noite fatídica. Ty havia desistido do ga¬rimpo para se dedicar à criação de gado, ao lado do irmão mais novo. Ao que tudo indicava, o homem seria parte per¬manente da paisagem de Noisy Swallow, uma lembrança constante de sua fraqueza carnal, uma tentação incômoda no fundo de sua mente. Aqueles braços tinham alimentado muitos sonhos durante os meses de inverno. Mas de acordo com as más línguas, o encontro dos dois não tinha provocado consequências semelhantes em Ty. Duas semanas depois de tê-la beijado, Louise ouvira contar que ele tinha sido visto em San Francisco, numa casa de mulheres fáceis. Ela ainda se sentia indignada. Graças a Deus, ela não se deixara levar por ele. — Srta. Livingston, está se sentindo bem? — Gordy perguntou. Ele e Niles a olhavam com expressão curiosa. Louise não encontrou uma desculpa para seu alheamento e voltou a se referir à bebida. — Quanto ao champanhe, eu simplesmente achei que um pouco de refinamento nos faria bem. Gordy sacudiu a cabeça. — De qualquer forma, acho bom levar isto lá para dentro antes que comece a chover. Ouviu-se um trovão distante. Niles, temendo ser requi¬sitado para carregar algo, desapareceu, virando a esquina do bar. Depois de levar todas as compras para dentro, Louise e Gordy acertaram as contas e puseram em dia as novidades ocorridas durante sua ausência. Meia hora mais tarde, ela saiu do bar em direção ao outro lado da rua. Noisy Swallow não tinha muito do que se orgulhar, mas quase tudo pertencia a Louise Livingston. Três anos atrás, seu pai tinha trazido a família de Chicago até a cidadezinha recém fundada. Durante a ...

viagem, a mãe morrera de cólera e o pai, logo após chegarem à Califórnia. Aos vinte anos, Louise se vira responsável por Sally e Toby, o irmão. Antes de falecer, o pai tinha conseguido um casebre de dois quartos para a família. Louise instalou-se num deles com os irmãos e alugou o outro. Começou também a cozinhar e a lavar roupa para os mineradores, ganhando, assim, mais dinheiro. Agora, dois anos depois, ela possuía não só um ótimo sobrado de madeira, cuja metade ela alugava para pen¬sionistas, como também o Noisy Swallow Bar e o novís¬simo Armazém Livingston, do outro lado da rua. Sua grande preocupação era com os irmãos. Ali, seria difícil Sally casar-se com um homem decente e Toby podia se transformar num sonhador indolente como os que fre¬quentavam o bar. Louise queria que a irmã se casasse com um homem bom, íntegro e que o irmão voltasse para o leste, a fim de cursar uma faculdade. Para espanto de Louise, Wilbur Abernathy, o pastor local e ferreiro, a esperava do lado de fora do armazém. O sa¬cerdote de meio expediente, que lutava para levantar di-nheiro para terminar a igreja, era uma pessoa cansativa. Ela parou perto da porta e o cumprimentou: — Boa tarde, reverendo Abernathy. — Boa tarde, Louise. Sua viagem correu bem? — Sim, mas como sempre, estou contente por estar de volta. Só então Louise notou um aviso pregado na porta. Por favor, volte depois. Fechado até a tarde. O bilhete, escrito com a letra de Sally, assustou-a. O que teria acontecido? — Onde está Sally? Aliás, onde estaria Toby também? — Mocinha tão animada essa sua irmã — Abernathy comentou. Se um pastor classificava Sally de animada, Louise sabia que devia preocupar-se. — Com que frequência o armazém ficou fechado durante minha ausência? — Ah, não sei ao certo. Louise abriu a porta e entrou, seguida pelo pastor-ferreiro. Não fazia idéia de quantas vezes os irmãos teimosos não cumpriam a obrigação. — Acho que seu ...

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