Livro: Aposta na Sedução Página 3

... com seriedade. E continuava, em tom adulador: — Tratar bem as pessoas faz parte do jogo, querida. A mamãe sempre me dizia que você era muito boa nas peças da escola. Agora é sua chance de me mostrar que pode mesmo atuar bem. Mas por que você nunca estava lá para ver? Joanna tinha vontade de perguntar, mas acabava não fazendo isso, porque o pai continuava: — Tudo o que precisa fazer, minha querida, é ficar perto de mim, sorrir e falar o mínimo possível. Geralmente, Joanna achava que se saía muito bem, mes¬mo quando os olhares maliciosos e comentários aos sussur¬ros de muitos dos homens que encontrava faziam com que sentisse vontade de fugir e se esconder. Com o tempo, tudo deixara de ser um jogo, e ela havia passado a ver sua nova vida como a farsa de mau gosto que realmente era e a se incomodar com isso. Tinha percebido ainda que não havia como escapar daquilo tudo. Por ora, estava presa naquela armadilha. Denys voltou a falar, todo empolgado: — Vou começar a investigar. Preciso descobrir quem é o novo visitante e se estaria interessado em visitar o cassino. Vejo você aqui depois do almoço. Lá vamos nós de novo, pensou Joanna com um suspiro ao ouvir a porta da suíte se fechar. — Só preciso de uma grande vitória. Ela havia perdido á conta de quantas vezes o pai dissera isso nos últimos meses. Ficou na varanda por um tempo, bebendo outra xícara de café e aproveitando o frescor daquela manhã ensolarada. Mas ainda não conseguia sentir-se tranqüila, não enquanto continuasse a se perguntar por quanto tempo poderiam vi¬ver daquele jeito. — Você é meu talismã — Denys costumava dizer à filha alegremente quando passaram a viver juntos, mas ela não vinha trazendo muita sorte a ele nos últimos tempos. Tenho de começar a evitar a recepção e usar a entrada de serviço também durante o dia, e não só à noite, pen¬sou amargamente enquanto empurrava a cadeira e passa¬va pelas portas de correr de vidro para chega ...

à sala de estar. As arrumadeiras chegariam logo, e Joanna precisava se certificar de que não deixaria nenhum sinal de sua ocupa¬ção noturna do sofá que pudesse ser percebido pelo olhar atento delas. Já devia fazer um bom tempo que o orçamento deles não permitia arcar com as despesas de uma suíte com dois quartos, e, apesar de não ceder o aposento para o pai de má vontade, sentia falta da paz e da privacidade que a sala de estar não podia proporcionar. Quando estava certa de ter deixado tudo em seu devido lugar, Joanna colocou o bronzeador e um livro na bolsa. Prendeu o cabelo para o alto num coque frouxo e cobriu-o com um chapéu de palha de abas largas, vestiu uma túnica branca sobre o biquíni, colocou os óculos de sol e pegou a toalha. Assim, camuflada, desceu até a piscina. Poucas pessoas — se é que alguma — a reconheciam durante o dia. Usando sandálias em vez de plataformas de salto alto, o cabelo escondido, o rosto sem a maquiagem noturna e um biquíni discreto, ela chamava pouca atenção, mesmo de homens que tivessem lhe lançado olhares apai¬xonados na noite anterior. O St. Gregoire cobrava muito caro pelo aluguel de espreguiçadeiras, então Joanna preferia estender sua toalha num dos gramados em volta da piscina. Ela se virou de bruços e pegou o livro que havia achado em uma loja de segunda mão um pouco antes de irem para a França, uma história de detetive de uma autora britânica chamada P. D. James, que atraíra Joanna porque seu título, “Trabalho Impróprio Para Uma Mulher”, parecia resumir bem sua situação atual. Talvez eu pudesse me tornar detetive particular, pensou ela. Só que não conheço ninguém que esteja para morrer e possa me deixar uma agência de detetives como herança. Um cenário mais provável, se as coisas dessem muito errado dessa vez, seria um retorno para o Reino Unido e um emprego para Denys na empresa do tio Martin. A vaga já tinha sido oferecida antes, graças à preocupação de seu ...

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