Livro: Capítulo dos Chapéus
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Machado de Assis
CAPÍTULO DOS CHAPÉUS
Géronte
Dans quel chapitre, s\'il
vous plaît?
Sganarelle
Dans le chapitre des
chapeaux.
Moliére.
Musa, canta o despeito de Mariana, esposa do bacharel Conrado Seabra, naquela
manhã de abril de 1879. Qual a causa de tamanho alvoroço? Um simples chapéu, leve, não
deselegante, um chapéu baixo. Conrado, advogado, com escritório na rua da Quitanda,
trazia-o todos os dias à cidade, ia com ele às audiências; só não o levava às recepções,
teatro lírico, enterros e visitas de cerimônia. No mais era constante, e isto desde cinco ou
seis anos, que tantos eram os do casamento. Ora, naquela singular manhã de abril, acabado
o almoço, Conrado começou a enrolar um cigarro, e Mariana anunciou sorrindo que ia
pedir-lhe uma coisa.
— Que é, meu anjo?
— Você é capaz de fazer-me um sacrifício?
— Dez, vinte.
— Pois então não vá mais à cidade com aquele chapéu.
— Por quê? é feio?
— Não digo que seja feio; mas é cá para fora, para andar na vizinhança, à tarde ou à
noite, mas na cidade, um advogado, não me parece que.
— Que tolice, iaiá!
— Pois sim, mas faz-me este favor, faz?
Conrado riscou um fósforo, acendeu o cigarro, e fez-lhe um gesto de gracejo, para
desconversar; mas a mulher teimou. A teima, a princípio frouxa e súplice, tornou-se logo
imperiosa e áspera. Conrado ficou espantado. Conhecia a mulher; era, de ordinário, uma
criatura passiva, meiga, de uma plasticidade de encomenda, capaz de usar com a mesma
divina indiferença tanto um diadema régio como uma touca. A prova é que, tendo tido uma
vida de andarilha nos últimos dois anos de solteira, tão depressa casou como se afez aos
hábitos quietos. Saía às vezes, e a maior parte delas por instâncias do próprio consorte; mas
só estava comodamente em casa. Móveis, cortinas, ornatos supriam-lhe os filhos; tinha-lhes
um amor de mãe; e tal era a concordância da pessoa com o meio, que ela sabo
...
eava os
trastes na posição ocupada, as cortinas com as dobras do costume, e assim o resto. Uma das
três janelas, por exemplo, que davam para a rua vivia sempre meio aberta; nunca era outra.
Nem o gabinete do marido escapava às exigências monótonas da mulher, que mantinha sem
alteração a desordem dos livros, e até chegava a restaurá-la. Os hábitos mentais seguiam a
mesma uniformidade. Mariana dispunha de mui poucas noções, e nunca lera senão os
mesmo livros: — a Moreninha de Macedo, sete vezes; Ivanhoé e o Pirata de Walter Scott,
dez vezes; o Mot de 1\'énigme, de Madame Craven, onze vezes.
Isto posto, como explicar o caso do chapéu? Na véspera, à noite, enquanto o marido
fora a uma sessão do Instituto da Ordem dos Advogados, o pai de Mariana veio à casa
deles. Era um bom velho, magro, pausado, ex-funcionário público, ralado de saudades do
tempo em que os empregados iam de casaca para as suas repartições. Casaca era o que ele,
ainda agora, levava aos enterros, não pela razão que o leitor suspeita, a solenidade da morte
ou a gravidade da despedida última, mas por esta menos filosófica, por ser um costume
antigo. Não dava outra, nem da casaca nos enterros, nem do jantar às duas horas, nem de
vinte usos mais. E tão aferrado aos hábitos, que no aniversário do casamento da filha, ia
para lá às seis horas da tarde, jantado e digerido, via comer, e no fim aceitava um pouco de
doce, um cálice de vinho e café. Tal era o sogro de Conrado; como supor que ele aprovasse
o chapéu baixo do genro? Suportava-o calado, em atenção às qualidades da pessoa; nada
mais. Acontecera-lhe, porém, naquele dia, vê-lo de relance na rua, de palestra com outros
chapéus altos de homens públicos, e nunca lhe pareceu tão torpe. De noite, encontrando a
filha sozinha, abriu-lhe o coração; pintou-lhe o chapéu baixo como a abominação das
abominações, e instou com ela para que o fizesse desterrar.
Conrado ignorava essa circunst ...
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