Livro: A praia dos mil amores Página 2

... nela. Por baixo de sua reserva e frieza, não era nenhuma pedra de gelo. E Brad Sheridan, além de muito charmoso, tinha um certo magnetismo. Ele deu um passo atrás e ela o encarou. — Não adivinha o porquê de meus poucos convites, não é, Brad Sheridan? - Não. Imagino que deve se achar muito timida, srta. Katrina Mar- rivale. — Levantou o queixo dela e escorregou os dedos por seu pes-coço. — Mas não é tão diferente assim das outras. Mais do que o beijo, aquela carícia sensual fez com que ela se tornasse mais agudamente consciente da proximidade dele. Contraiu-se toda com raiva. — Não sou tímida nem tenho o hábito de bancar a difícil. Esses joguinhos não fazem meu gênero. Se pensa que sou dessas que ficam atacadas de sensualidade tropical, cinco minutos depois de chegarem aqui, está muito enganado. Nesse caso, sou diferente, mesmo!. Passou por ele, pegou o xale sobre a cadeira e jogou nos ombros. — Por favor, feche as portas quando sair. — Já está me mandando embora? Antes de acabar meu drinque? Ela mordeu o lábio e ouviu colocar gelo e bebida num copo. De¬pois, aproximou-se com um drinque na mão, como um desafio. — Se é uísque, não quero. — Não é uísque nem gim. Já aprendi alguma coisa sobre você. Pegou o copo que ele estendia e bebericou o limão com soda gela¬da. Se pelo menos Brad fosse embora! Dava ódio que tivesse o poder de confundi-la, apesar de não conseguir abalar sua aparência de tranquilidade. Mais uma vez, ficou grata pelos três anos difíceis que linha pas¬sado como modelo. O treino exigia disciplina e calma sob a luz dos refletores, ou diante do público. Tomou outro gole e pegou um cigar¬ro na caixa de opalina verde. O isqueiro de Brad Sheridan acendeu-se ao mesmo tempo que o isqueiro de mesa, e ela fez um gesto impaciente. — Não devia fumar, sabe disso. — Por que não? — É mau hábito que está ficando fora de moda. — Passei os três últimos anos da minha vida, na moda � ...

� respon¬deu, friamente. — Agora, estou de férias. Alguma objeção? — As suas férias, não. Mas não gosto que minhas mulheres me dêem beijos com gosto de nicotina. Kate apertou os lábios, com raiva, e, sem perceber o que fazia, apertou o cigarro com tanta força no cinzeiro de cristal, que quase o partiu em dois. — Não sou uma de suas mulheres! E acho que está sem sorte, ou vai ter que esperar horas! A tempestade atrasou meu pai. Ele deve estar jantando com Marlow. Portanto, não adianta esperar mais. — Não estou com pressa. Brad não se mostrou irritado com sua explosão, nem contente por ter conseguido acabar com seu controle. Foi até a varanda e fechou as janelas e portas. Parou com a mão no trinco e olhou-a. — A não ser que queira tomar um pouco de ar fresco comigo. . . — Estou pouco ligando para ar fresco. — Ê, percebi, mesmo. Ela deu de ombros e caiu numa cadeira. — Você vai conosco, neste fim de semana? — ele perguntou. — Ainda não resolvi. Estendeu a mão para o copo, até querendo que fosse alguma coisa mais forte do que limonada para restaurar suas forças. Por que seu relacionamento com Brad Sheridan era sempre assim? Essa luta de palavras, essa necessidade de defesa? Sentiu que isso ia acontecer, cinco minutos depois que se conheceram. Kate lembrou da tarde em que tinha chegado. Apesar da ansiedade em relação à operação que a mãe ia fazer, sentiu uma alegria profunda por estar de volta ao Oriente depois de uma ausência tão longa. Cinco anos era muita coisa, pensou, culpa¬da. Esses anos tinham sido uma ponte entre a adolescência e a matu¬ridade e escorregaram por seus dedos, quase sem que percebesse, en¬quanto construía uma carreira e uma vida independente. Continuava adorando os pais, mas acreditava que estavam muito felizes, naquela vidinha a dois. Por sua vez, eles sabiam que tia Rena, a irmã mais velha da mãe, estava lá em Kent, de olho na jovem Kate. Mas aque¬les cinco anos realmente ...

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