Livro: A Professora da Ilha Página 2

... tros de chuva para que as montanhas comecem a deslizar. E o que tem chovido nestes dias, principalmente desde ontem à noite. E o pior é que, aparentemente, não vai parar tão cedo. A previsão anuncia que vem aí outra tempestade tropical. — Mas não posso ficar aqui. Vou dar trabalho. — ela se calou ao contemplar o olhar divertido do homem. — Infelizmente, parece que terei de aceitar sua hospitalidade. Obrigada. — Não se preocupe, estamos preparados para receber hóspedes. — Mas não flagelados — volveu ela, infeliz. — São coisas que acontecem — ele tranquilizou-a. — Como machucou seu pé? — Não sei. — Ela engoliu em seco. — Passei uma hora procurando por David. Oriel não entrou em detalhes. Nem mencionou o pesadelo por que passara, enfrentando a chuva, pulando sobre as enxurradas e os escombros que o riacho trazia das colinas, até encontrar o primo, inconsciente e com uma perna quebrada, à beira de uma ribanceira. O vendaval furioso o arremessara para lá. — Está tudo bem, agora. Você está bem e David está sendo socorrido. Kathy era enfermeira, antes de se casar e vir morar aqui. Ela garante que seu pé não está quebrado, apenas torcido. Mas acredito que esteja difícil para andar. O homem fez uma pausa e Oriel lembrou que utilizara um galho como muleta, cambaleando pela praia antes de cair e seguir engatinhando, chorando de exaustão ao ver que alguém se aproximava. Ele correra em sua direção, vendo-a desmaiar. Tomou-a nos braços, fazendo-a acordar algum tempo depois. — Como se chama? — quis saber ele. — Oriel Radford. — Sou Blaize Stephenson. — Que lugar é este? — Pukekaroro, sul da baía das Ilhas. — Morro da Gaivota — murmurou ela, reconhecendo o nome do lugar. — Você fala maori? — Muito pouco. Mas entendo, razoavelmente. Fui criada em Fiji. Nesse momento, a mulher que trabalhava na casa apareceu na porta do banheiro. Era ruiva, sardenta, e parecia ter cerca de trinta anos. ma ...

s ou menos a mesma idade que Blaize aparentava. Era simpática, afável e, ao que tudo indicava, extremamente competente. — Oriel, esta é Kathy Howard. Kathy. Oriel Radford. — Muito prazer, srta. Radford. Pode deixá-la comigo, Blaize. — Kathy poderá providenciar qualquer coisa de que precise, srta. Radford. Até mais tarde. Oriel suspirou e sorriu para a jovem governanta. — Desculpe o transtorno — murmurou, sem jeito. — Nada disso — a mulher retribuiu o sorriso. — Para falar a verdade, é até bom sair da rotina de vez em quando. Estamos trancafiados aqui dentro há semanas, por causa desse tempo infernal. Vamos lá! Deixe-me ajudá-la a tirar esse short molhado. Meia hora mais tarde, Oriel estava sentada na cama, limpa e revigorada depois do banho quente e dos curativos que Kathy lhe fizera. Entretanto, a expressão do rosto que ela contemplava no pequeno espelho de mão não era das mais animadoras. Estava pálida, e um profundo arranhão marcava-lhe o rosto, da pálpebra inferior ao queixo. Em um dos lados do rosto, um hematoma em formação tornava-se cada vez mais escuro e ela tinha certeza de que, no dia seguinte, acordaria com um olho roxo. A testa ainda latejava, mas Kathy garantira que o ferimento não era profundo, apenas uma esfoladura. Pelo menos, a água quente ajudara a aliviar a dor que sentia pelo corpo inteiro. Agora, apesar do cansaço, sentia uma agradável sensação de bem-estar. Fez uma careta ao passar a mão pelos cabelos negros e curtos, que secavam naturalmente, formando uma auréola desordenada dos cachos encrespados. — Que lindo cabelo você tem! — exclamou Kathy, massageando a cabeça de Oriel. — Quer um secador? Oriel olhou para a governanta, surpresa. Seus maiores complexos desde que se tornara mocinha sempre haviam sido a altura excepcional, quase um metro e oitenta, e os cabelos. A mãe vivia mandando-a desembaraçá-los, e o primo David, durante muito tempo, chamara-a de "leoa". Agora, era a prim ...

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