Livro: A Tentação do Guerreiro Página 3

... e os odhars o perseguem-¬ sem. Tente evitá-los. — Sim, não terei motivo para invocar espíritos. Quando eu localizar Keating, tenho certeza de que a pedra que me cabe encontrar surgirá diante de mim. — Então, Deus o acompanhe, primo. Tome cuidado. Escola Bresland, Kirtwarren, Úmbria do Norte, início de março de 1826 Estava bastante frio no minúsculo quarto que Jenny Keating dividia com a mais nova professora, Harriet Lambton. Jenny criava coragem para se lavar na água gelada da bacia. Harriet e ela poderiam ficar aquecidas durante a noite se a escola permitisse o uso de carvão nos dias mais frios e escuros de fevereiro. Mas as regras do reverendo Usher eram estritamente obedecidas. As crianças também sofriam com as baixas tempe¬raturas, um fato que Jenny conhecia por experiência própria. Viera para a Escola Bresland ao ficar órfã, com dez anos de idade. Embora o pai tivesse deixa¬do dinheiro suficiente para sustentá-la, os tutores não quiseram se responsabilizar por ela. A tia e tio envia¬ram-na a Bresland no dia do funeral dos pais, e Jenny duvidava que eles tivessem pensado nela um só mo¬mento naqueles onze anos. Ela apressou o banho frio e falou com Harriet, mas esta, com a cabeça e os ombros escondidos pelos cober¬tores, não lhe deu resposta. — Perderá seu posto por algum tempo — Jenny a avisou. Harriet, porém, permaneceu quieta. O reverendo Usher exigia pontualidade das professo¬ras e chegava ao refeitório antes delas. Eleja admoesta¬ra asperamente Harriet Lambton duas vezes ou mais. Jenny não tinha tempo para desperdiçar tentando acordar Harriet e fazê-la sair da cama. Mal conhecia a jovem e o que vira até aquele momento não havia sido positivo. Harriet era preguiçosa, nunca fazia nada além do que lhe era solicitado, sua linguagem era in¬cipiente e as habilidades acadêmicas mínimas; porém o reverendo Usher havia empregado um considerável número de professoras e criadas ao longo dos anos. Ningu ...

�m com certa distinção queria emprego ali, e Jenny pretendia ir embora logo. Uma nova posição a aguardava na propriedade Darbury. Tinha apenas que entregar a notificação ao diretor e partir. Tal pen¬samento causou uma dor aguda em seu peito. No en¬tanto, ela sorriu. Sem pensar mais em Harriet e nos próprios proble¬mas, vestiu-se rapidamente; era necessário usar uma túnica de lã preta com punhos e gola brancos. O tra¬je estava gasto e remendado em vários lugares, e ela sentia-se constrangida de ter que ir a Darbury vestida daquela maneira. Talvez pudesse gastar um pouco do seu precioso dinheiro para comprar uma roupa nova em Carlisle. Com cuidado, prendeu os cabelos loiros e encara-colados em um coque baixo antes de pôr a touca de renda branca. Aprendera muitas lições logo no primei¬ro dia em Bresland, e uma delas era que mechas de cabelos soltas eram ofensivas a Deus e ao reverendo Usher. Mais de uma vez, o diretor a havia repreendido por causa dos cabelos, chamando-a de vaidosa e de pe¬quena pecadora desavergonhada, na frente das outras jovens da escola. Enrolando-se em um xale escuro, Jenny desceu a escadaria austera. Como de hábito, procurou o antigo pingente prateado que mantinha no bolso ou em um cordão ao redor do pescoço. Era fácil escondê-lo por ser ligeiramente maior que um ovo de passarinho e do mesmo formato. Não se tratava de algo bonito, mas sim da única lembrança que tinha de sua mãe. E ele se fora! Um pânico repentino a atingiu e ela parou na esca¬da para verificar se o pingente realmente não estava com ela. Havia sido o único objeto que conseguira es¬conder dos tios quando eles tinham vendido todos os pertences de seus pais e a mandaram embora. Harriet! A garota que dividia o quarto com ela era a única pessoa que havia visto o pingente e sabia do seu va¬lor. Depois de Harriet ter resmungado a respeito de ser rejeitada e da intenção de ir embora de Bresland, não seria difícil imaginar que a companheira p ...

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