Livro: Os Escravos
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Autor - Fonte: Castro Alves
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Castro Alves
Índice:
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01. A bainha do punhal
02. A canção do africano
03. A criança
04. A cruz da estrada
05. A mãe do cativo
06. A órfã na sepultura
07. A visão dos mortos
08. Adeus, meu canto
09. América
10. Antítese
11. Ao romper d\'alva
12. Bandido negro
13. Canção do violeiro
14. Confidência
15. Estrofes do solitário
16. Fábula - O pássaro e a flor
17. Frades
18. Jesuítas e frades
19. Lúcia
20. Manuela - (Cantiga do racho)
21. Mater dolorosa
22. O canto de Bug Jargal
23. O derradeiro amor de Byron
24. O navio negreiro
25. O século
26. O sibarita romano
27. O sol e o povo
28. O vidente
29. Prometeu
30. Remorso
31. Saudação a Palmares
32. Súplica
33. Tragédia no lar
34. Vozes d\'África
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A bainha do punhal
(Fragmento)
Salve, noites do Oriente,
Noites de beijos e amor!
Onde os astros são abelhas
Do éter na larga flor.
Onde pende a meiga lua,
Como cimitarra nua
Por sobre um dólmã azul!
E a vaga dos Dardanelos
Beija, em lascivos anelos
As saudades de \'Stambul.
Salve, serralhos severos
Como a barba dum Paxá!
Zimbórios, que fingem crânios
Dos crentes fiéis de Alá! .
Ciprestes que o vento agita,
Como flechas de Mesquita
Esguios, longos também;
Minaretes, entre bosques!
Palmeiras, entre os quiosques!
Mulheres nuas do Harém!.
Mas embalde a lua inclina
As loiras tranças pra o chão
Desprezada concubina,
Já não te adora o sultão!
Debalde, aos vidros pintados,
Aos balcões arabescados,
Vais bater em doudo afã.
Soam tímbalos na sala.
E a dança ardente resvala
Sobre os tapetes do Irã!.
A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão .
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar.
E à meia voz lá responde
A
...
canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar .
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
.
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
A criança
Que veux-tu, fleur, beau fruit, ou l\'oiseau merveilleux?
Ami, dit l\'enfant grec, dit l\'enfant aux yeux bleus,
Je veux de Ia poudre et des balles.
VICTOR HUGO (Les Orientales)
Que tens criança? O areal da estrada
Luzente a cintilar
Parece a folha ardente de uma espada.
Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
À sombra do palmar
O lavrador se inclina sonolento.
É triste ver uma alvorada em sombras,
Uma ave sem cantar,
O veado estendido nas alfombras.
Mocidade, és a aurora da existência,
Quero ver-te brilhar.
Canta, criança, és a ave da inocência.
Tu choras porque um ramo de baunilha
Não pudeste colher,
Ou pela flor gentil da granadilha?
Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
Para em teus lábios ver
O riso — a estrela no horizonte da alma.
Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
Dos seus algozes vis.
E vagas tonto a tatear à noite.
Choras antes de rir. pobre criança!.
Que queres, infeliz?.
— Amigo, eu quero o fer ...
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Comentários:
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