Livro: A Palavra Final é do Coração Página 4

... um pouquinho. — Queria só ver a noiva? — perguntou Conceição. — Quase ia esquecendo. Isso aqui — acenou com um envelope branco, que permanecera na sua mão desde a chegada — foi mandado por um portador. Acabou de chegar. Pensei que podia ser importante. — Cumprimentos de alguém — murmurou Conceição, avançando para pegar o papel. — Ah. ah. é para a noiva — brincou Bernardo, rindo para a irmã e deixando o vão para se aproximar dela. Mais alto quase quinze centímetros, inclinou-se e estendeu o envelope sob o olhar crítico da mãe. — Para uma senhorita. quase senhora — pilheriou, sentindo Beatriz lhe retirar o envelope de entre os dedos, rindo. Mas o riso parou assim que reconheceu a letra. Uma expressão estranha tomou o rosto bonito dela, enquanto rodava o envelope nas mãos. — É de Leandro — falou, sentindo algo estranho, um sexto sentido, talvez, que fez o coração falhar uma batida enquanto os dedos dela abriam o envelope e retiravam uma folha de papel fino. O conteúdo era pouco. Apenas algumas linhas, mas que pareceram significar uma sentença de morte. Conceição e Bernardo viram quando ela tornou a ler a mensagem. Perceberam que a moça empalidecia e o corpo pequeno ficava tenso como uma .corda de violino. — Algum problema? — Conceição se aproximou. — O que houve? É mesmo de Leandro? Sem uma palavra, Beatriz estendeu o papel, continuando a fitar o vazio à sua frente. Seu cérebro ordenava que reagisse, mandava que tomasse alguma providência. Mas era impossível. Ela não conseguia romper aquela reação de paralisia que a havia tomado. — Não pode ser! Contra tudo quanto havia dito antes, ao ajudar Beatriz a se vestir, Conceição se moveu. — Patife! A voz de Bernardo soou, enchendo o aposento e provocando a faísca que faltava para fazer com que a moça se deixasse cair sentada na cama de solteiro, coberta com uma colcha cor-de-rosa. Mentalmente, Beatriz repetiu as palavras que havia ac ...

bado de ler: “Beatriz: Perdoe a deserção. Estou trocando o amor pelo dinheiro. Quando receber este bilhete, já estarei partindo para a Europa, onde vou casar com uma rica herdeira. Se a consola, eu a amo e vou amá-la sempre. Leandro” A fogo, as palavras pareciam ter sido imprimidas em seu cérebro, mas, no coração, era como se tivessem aberto uma chaga. Deserção. Troca. Dinheiro. Amor. A cabeça da moça se inclinou, enquanto Beatriz fechava os olhos. O véu escorregou pelo vestido de seda pura e cobriu o rosto pálido. — Eu vou buscá-lo! — Bernardo deixou o vão, pisando duro, lutando por um controle que estava difícil de alcançar. — Vou levá-lo para a igreja nem que seja se arrastando! — avisou, avançando pelo corredor da casa de um só andar. Aquela ameaça pareceu despertar Beatriz, tirá-la da letargia que a tinha acometido desde que havia lido o bilhete. — Não! Levantou-se, ainda terrivelmente pálida. Não entendeu como suas pernas podiam estar tão firmes depois de tudo. Correu atrás do irmão, erguendo levemente a saia comprida. — Bernardo! — chamou, vendo que o rapaz já tinha alcançado a sala. Conceição, saindo também da surpresa, seguiu Beatriz. — Bernardo! — tornou a moça, aumentando a velocidade e chegando ao irmão no instante em que este abria a porta da casa. — Não quero que vá buscá-lo. A firmeza da voz correspondeu à das pernas. Quase insensatamente, Beatriz se perguntou de onde tinha tirado forças para aquela ação. — Mas ele não pode deixá-la assim! Praticamente no altar! — Ele é livre! — garantiu Beatriz. No seu coração, a palavra soou quase sinistra e provocou uma dor atordoante. — Não vou forçar nada. Não quero assim. Não o quero assim — consertou, fazendo a voz, já normalmente rouca, soar no aposento modestamente decorado. — E os convidados? Nós? — Bernardo encarou-a fixamente, procurando descobrir o que ela sentia no mais fundo do seu ser. — Voc ...

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