Livro: A Palavra Final é do Coração Página 3

... nicio — Conceição abriu o sorriso, compreensiva. — Um início, sem dúvida, bastante brilhante. Leandro vai ter paciência, vai ficar deslumbrado com o seu aspecto de sonho — tornou a examinar a figura de Beatriz — vai desejá-la intensamente. Só que você não estará vestida assim nos outros muitos dias da vida de casada. Vai estar de jeans e camiseta, um vestidinho de algodão, chinelos, rolos no cabelo muitas vezes, a expressão exausta de lidar com as crianças o dia inteiro, odiando o fogão e o tanque, desejando ter feito o curso que não fez agora. E só o amor pode transformar tudo isto num casamento bem-sucedido. Não era a primeira vez que Conceição falava daquela maneira. Todas as vezes em que o fizera, as palavras sensatas da mãe haviam calado fundo no espírito de Beatriz. No entanto, a moça prosseguiu no plano de casar com Leandro, repetindo-se, sempre, que o amava para a vida toda, que não se incomodava com os defeitos que já podia detectar no noivo, garantindo que conseguiria amá-lo mesmo com aquele jeito mandão, o desejo de ter sempre mais dinheiro, um tipo de vida mais folgado e não o de um caixa de banco. — Não devia estar falando assim agora — conscientizou-se Conceição. — Quero que você seja feliz. Tão feliz quanto uma mulher pode ser. Vai gostar de lembrar da sensação que teve neste dia — sorriu à filha como que pedindo desculpas. Sem encontrar uma palavra que definisse aquela sensação de inquietude que a tinha assaltado. Beatriz moveu a cabeça, fazendo o véu se agitar. Depois, forçou um sorriso. — Retoque o batom — comandou a mãe de um jeito mais animado diante da expressão concentrada de Beatriz. — Não morda os lábios, porque senão estará sem sombra dele quando entrar na igreja — recomendou. Beatriz apenas assentiu com um gesto e se virou para pegar o estojo de maquilagem. Não havia desejado um maquilador, como sugerira Leandro. Leandro! As palavras que a mãe tinha acabado de pr ...

nunciar ainda martelavam em seus ouvidos e na cabeça. Leandro, sempre tão cioso das conveniências, sempre desejando aparentar mais do que era. Pequenos defeitos — ela tinha dito desde o início do namoro e, por amor, havia aceitado todos eles. A única vez em que não tinha cedido aos planos do noivo tinha sido aquela. Quisera o vestido feito pela mãe, costureira de gabarito, a maquilagem quase natural, um batom, uma sombra leve nos olhos, rímel suave. Queria ser ela mesma e não uma boneca enfeitada no dia mais importante de sua vida. Uma batida na porta obrigou-a a deixar os pensamentos. Ouviu a voz de Conceição ordenar: — Entre! A porta cedeu, sem barulho, e no vão surgiu um rapaz de uns vinte anos. Usava um terno bege e parecia um pouco desconfortável com a roupa nova. Os cabelos negros indicavam o parentesco com Beatriz e a própria Conceição. O olhar de Bernardo se deteve na figura de Beatriz, parecendo encantado. — Está linda. diferente. — murmurou o rapaz, ainda boquiaberto, fazendo a noiva rir, enquanto também estranhava a vestimenta do irmão. — O que posso dizer de você? — riu ela, um brilho meigo nos olhos dirigido claramente ao irmão caçula, seu companheiro de brincadeiras e de sonhos que nem mesmo a adolescência tinha conseguido afastar. Tinha sido sempre assim. Amigos. Amigos desde o dia em que Conceição, vinda da maternidade, estendera o embrulhinho azul na direção de uma menina de quatro anos que sorriu encantada. — Não parece muito à vontade no terno — a alegria voltava, a presença de Bernardo tinha afastado o tom sério de Conceição e também as dúvidas que foram suscitadas no espírito da noiva. — Preferia o jeans? Bernardo concordou. — Você podia escolher uma hora menos solene — murmurou, sem haver no olhar escuro qualquer real crítica. — Mas a gente faz tudo por uma irmã. A única, por sinal — o sorriso infantil bailou nos lábios cheios do rapaz. — Pronta? — Falta só ...

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