Livro: Boa noite Cinderela Página 3

... vou-a até a porta. — Não será tão ruim. Há muitas crianças de sua idade. Em algumas se¬manas, terá vários amigos para brincar e se divertir. Hannah não queria nada disso. Não era como as outras. Não era uma órfã. Seu pai haveria de vir buscá-la. — Sei que dá medo — Nancy disse, guiando Hannah por um corredor. — Mas vai se acostumar logo. Você verá. — Tenho uma madrasta. Hannah era esperta o suficiente para saber que nem todas as madrastas eram malvadas, e a mulher com quem o pai se casara não parecia diabólica. Vira a foto dela nos jornais mais de uma vez. — Sim, Hannah. Também sabemos disso. Entraremos em con¬tato com sua madrasta. Sua avó nunca mencionou outros parentes? — Não. Ela também não falava muito de meu pai. Nancy apontou um banco de madeira ao lado de uma porta. — Espere aqui, enquanto vou falar com a diretora. Como ficou sabendo de sua madrasta? — Li as histórias no Houston Scoop. Era o jornal predileto de vovó. Hannah começara a ler jornais no mesmo ano em que o pai ficara noivo. Cecília era o nome da mulher que agora era sua ma¬drasta. Cecília Culpepper Barton. Uma herdeira tresloucada. A menina procurara as palavras no dicionário. "Tresloucada" significava lunática, e "herdeira", que era rica. Seu pai casara-se com uma louca. O jornal dissera que Neville era um executivo de sucesso. Mas Hannah não entendera por que ele quisera se unir a uma lunática, e também tivera medo de perguntar à avó, já que ela detestava o genro. Queria que a mãe estivesse viva para poder indagar-lhe. Ela lhe dissera que Neville se fora para fazer fortuna e, quando a conse¬guisse, voltaria para buscá-las. Hannah achara que o pai viria logo depois do casamento. Sabia que um executivo devia possuir muito dinheiro para ter sucesso. Contudo, ele fora preso por roubo, e a polícia o pôs na cadeia. Sua avó afirmara que o genro merecera a prisão. Mas ele conseguira fugir. Hannah também fugiria. Se soubess ...

onde encontrá-lo, iria di¬reto até o pai. O fato de ele ser ladrão não fazia diferença. Cometera um crime para ficar rico e buscar a filha. — Tenho mesmo de ficar aqui, Nancy? — Sim, querida. Mas não será por muito tempo.—Nancy bateu na porta. — Voltarei em um minuto. Nancy não a deixaria esperar pelo pai na casa da avó, Hannah concluiu, pesarosa. Aliás, ninguém a deixara sozinha depois que a avó fora para o hospital. Hannah ficou com a sra. Beasley, a vizinha, desde o momento em que a ambulância chegou para pegar a avó. Fazia duas semanas. A sra. Beasley levara Hannah à escola todos os dias e ao hospital apenas uma vez. Fora assustador. A avó lhe parecera pequena demais naquela cama. E estava ligada a tubos e máquinas estranhas. Hannah se¬gurara-lhe a mão. Ambas choraram muito ao se despedir. Tinha vontade de chorar agora. Não queria ficar num orfanato. Mas estava assustada demais para escapar. Mesmo porque não sabia aonde ir. — O que vai acontecer com a casa de vovó? — Não sei. Passará a ser sua. Ela não tinha outros herdeiros, que eu saiba. Se você for mesmo a única, será indicado um guar¬dião para cuidar de sua propriedade. — Se eu ficar com o imóvel, poderei morar lá? — Lógico. No dia em que completar dezoito anos. Até lá, pre¬cisa de um adulto para se responsabilizar por você. — Sei me cuidar sozinha. Hannah queria que o pai aparecesse logo. Seria bom ter alguém para ajudá-la a cuidar-se. De volta ao Serviço de Proteção ao Menor, Nancy Phillips di¬rigiu-se à sala de seu supervisor, Paul Beeson. — A menina tem razão, Nancy. Ela não é uma órfã, pois tem um pai. — Sim, Neville Barton, aquele escroque. Sabia que Hannah nunca viu o pai? — Isso não me surpreende. — O miserável abandonou a esposa grávida. Pelo que a vizinha me disse, a mãe de Hannah alimentava a idéia romântica de que Neville voltaria um dia. Foi a história que ela contou à filha. — E Hannah acred ...

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