Livro: O selvagem Página 2

... Brown olhou para ela com curiosidade. - Claro! - disse Marie, tentando parecer sincera. Os olhos castanhos da sra. Brown percorreram o vestido de noite, de pesada seda branca, que a garota usava, imaginando com inveja 6 o preço de tal maravilha. Os outros hóspedes do hotel não podiam deixar de saber que Marie era filha de James Brinton, o cabeça de uma enorme firma eletrônica, localizada no sul da Inglaterra. Tudo que a garota tinha era da mesma qualidade: caro, na última moda, e usado com uma graça inconsciente. A sra. Brown, quando a viu pela primeira vez, ficou um pouco apreensiva mas, conhecendo-a melhor, viu que Marie era mais amigável do que parecia. O vestido azul de chifon da sra. Brown parecia perder seu encanto ao lado do de Marie, e a mulher suspirou. Você tem sorte de ter viajado por todo o mundo. Eu a invejo. Don e eu nunca tivemos dinheiro para sair da Inglaterra. Tínhamos que pensar nas crianças. Joanna nunca foi uma boa viajante; enjoava até mesmo numa viagem de carro e nunca pôde voar. Mas, de qualquer jeito, as crianças preferem ir para beira-mar. Nunca quiseram ir para qualquer outro lugar. Mas eu costumava pegar folhetos de viagens e ler do começo ao fim, morrendo de vontade de visitar lugares distantes. Agora que estamos sós de novo, poderíamos sair, mas nunca conseguimos economizar o bastante. Estamos sempre precisando de alguma coisa: um tapete novo, outro carro. . . algo mais importante que as férias. - Então, deve ter sido maravilhoso para você vencer o concurso - disse Marie, balançando a cabeça compreensivamente. - Eu fiquei no auge! Meus sonhos tornaram-se realidade. - E é tudo tão bom quanto esperava? - É sim - disse a sra. Brown vivamente. - Fico contente. - Marie sorriu e tentou imaginar o tipo de vida que a sra. Brown levava. Os dias calmos preenchidos pelos filhos, a mente cheia de sonhos de viagens excitantes para confortá-la. Era um mundo totalmente diferente do dela. A seu modo, era tão in ...

eressante para ela quanto o deserto exótico que viera ver. O que não conhecemos é sempre tão excitante quanto um sonho. A mente humana nunca está satisfeita, sempre procurando novos horizontes, novos conceitos além dos conhecidos. - E você? - perguntou a sra. Brown. - Você se divertiu na viagem até Kasbah, não? Notei como estava excitada quando entramos no ônibus. Sabe, eu estava um pouco nervosa, não me importo de lhe contar. Alguns dos árabes naquelas tendas pareciam um pouco sinistros. Quer dizer, dizem que ainda há escravos em algumas partes do mundo árabe e que todo cuidado é pouco, aqui. Se você se afastar muito da civilização, sabe-se lá o que pode acontecer! - Acho que eu me divertiria muito me afastando da civilização - disse Marie, rindo. - Estou cansada de boiar na piscina, de tomar chá de hortelã sentada a uma mesa, de passear pelos arredores em um ônibus com ar condicionado olhando para o mundo lá fora através de janelas de vidro. . . estou quase saindo por aí por conta própria para descobrir como são as coisas por aqui, de verdade. - Eu não faria nada disso, minha querida. Você é uma garota muito bonita. Esse seu cabelo claro mostra que é europeia. Notei que alguns daqueles homens em Kasbah olhavam fixamente para você, de um modo muito furtivo. Se eu fosse você, ficaria aqui, onde está a salvo. - A sra. Brown parecia horrorizada. - Oh, Deus! - Marie virou-se e olhou para o mar iluminado pela lua, a mente inquieta. - Eu vim para cá para ver o deserto, os espaços vazios e selvagens do mundo, não para comer comida francesa e dançar música pop. Acho que também tinha um sonho romântico, exatamente como a senhora, só que o meu era mais difícil de se realizar. - Acho que você já viu tantos lugares interessantes, que é mais difícil de se satisfazer - disse a sra. Brown, sem rodeios. - Pode ser. Desculpe-me, não queria estragar seu divertimento com as minhas queixas. - Marie virou-se, sorrindo de lev ...

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