Livro: O Guaraní
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Autor - Fonte: José de Alencar
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José de Alencar
PRÓLOGO
Minha prima. — Gostou da minha história, e pede-me um romance; acha que posso fazer
alguma coisa neste ramo de literatura.
Engana-se; quando se conta aquilo que nos impressionou profundamente, o coração é que
fala; quando se exprime aquilo que outros sentiram ou podem sentir, fala a memória ou a
imaginação.
Esta pode errar, pode exagerar-se; o coração é sempre verdadeiro, não diz senão o que sentiu;
e o sentimento, qualquer que ele seja, tem a sua beleza.
Assim, não me julgo habilitado a escrever um romance, apesar de já ter feito um com a minha
vida.
Entretanto, para satisfazê-la, quero aproveitar as minhas horas de trabalho em copiar e
remoçar um velho manuscrito que encontrei em um armário desta casa, quando a comprei.
Estava abandonado e quase todo estragado pela umidade e pelo cupim, esse roedor eterno,
que antes do dilúvio já se havia agarrado à arca de Noé, e pôde assim escapar ao cataclisma.
Previno-lhe que encontrará cenas que não são comuns atualmente, não as condene à primeira
leitura, antes de ver as outras que as explicam.
Envio-lhe a primeira parte do meu manuscrito, que eu e Carlota temos decifrado nos longos
serões das nossas noites de inverno, em que escurece aqui às cinco horas.
Adeus.
Minas, 12 de dezembro.
AO LEITOR
Publicado este livro em 1857, se disse ser aquela primeira edição uma prova tipográfica, que
algum dia talvez o autor se dispusesse a rever.
Esta nova edição devia dar satisfação do empenho, que a extrema benevolência do público
ledor, tão minguado ainda, mudou em bem para dívida de reconhecimento.
Mais do que podia fiou de si o autor. Relendo a obra depois de anos, achou ele tão mau e
incorreto quanto escrevera, que para bem corrigir, fora mister escrever de novo. Para tanto lhe
carece o tempo e sobra o tédio de um labor ingrato.
Cingiu-se pois às pequenas emendas que toleravam o plano da obra e o desalinho de um estilo
não castigado
...
PRIMEIRA PARTE
OS AVENTUREIROS
I CENÁRIO
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e
engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.
É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois
se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito.
Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro
contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza
selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os
barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.
Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é
livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.
Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir,
espumando, deixando o pêlo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão com o
estampido de sua carreira. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua
um momento para concentrar as suas forças, e precipita-se de um só arremesso, como o tigre
sobre a presa.
Depois, fatigado do esforço supremo, se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia
que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de
trepadeiras e flores agrestes.
A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se
estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos
capitéis formados pelos leques das palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os
dramas majestosos dos elementos, em que o homem e apenas um simples comparsa.
No ano da graça de 1604, o lagar q ...
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